Nascida a 8 de dezembro de 1930, Vanda Semyonovna Obiedkova tinha 10 anos quando os nazis invadiram Mariupol, em 1941, e cercaram os judeus da cidade. Quando levaram a sua mãe, Mindel, a menina conseguiu escapar, escondendo-se numa cave. Vanda acabou por morrer aos 91 anos, escondida do exército russo no local onde, 81 antes, encontrou refúgio das forças nazis: numa cave fria de Mariupol.
“A mãe não merecia esta morte”, disse a filha da mulher, Larissa, em declarações ao Chabad.
No início da ofensiva russa na cidade, a família encontrou abrigo numa cave de uma loja, conseguindo subsistir com a ajuda da sinagoga da cidade, dirigida pelo rabino Mendel Cohen.
“Não havia água, eletricidade, aquecimento – o frio era insuportável”, complementou Larissa, acrescentando que não havia nada a fazer pela mãe. “Estávamos a viver como animais.”
Cada vez que uma bomba caía, Larissa revelou que a mãe dizia não se “lembrar de algo assim desde a Segunda Guerra Mundial”. “Todo o edifício tremia”, acrescentou.
Nas suas duas últimas semanas de vida, Vanda permaneceu ao frio, sem sequer se conseguir levantar. Acabou por morrer no dia 4 de abril, com a filha a seu lado, que arriscou a vida para a enterrar num parque perto do mar de Azov.
A mãe de Vanda foi um dos nove a 16 mil judeus executados pelos nazis e deixados em valas nos arredores de Mariupol. A menina chegou mesmo a ser detida, mas amigos da família conseguiram convencer as forças nazis de que era grega. O pai, que não era judeu, conseguiu depois colocá-la num hospital, onde permaneceu até à libertação da cidade, em 1943. Casou em 1954, e viveu toda a vida em Mariupol, conhecida por Zhdanov durante o regime soviético.
“A mãe adorava Mariupol. Nunca queria deixar [a cidade]”, recordou Larissa.
O ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, anunciou esta quinta-feira o controlo da cidade portuária, sitiada pelos russos há semanas, segundo avançou a agência Interfax. A Rússia prepara a vitória para dia 9 de maio, data com simbolismo soviético, uma vez que marca o feriado do Dia da Vitória, que assinala a vitória da União Soviética frente à Alemanha nazi, em 1945.
Lançada a 24 de fevereiro, a ofensiva militar russa na Ucrânia já matou quase dois mil civis, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
O conflito provou ainda a fuga de mais de 11 milhões de pessoas, mais de cinco milhões das quais para os países vizinhos.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
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