"O que África fizer com a agricultura vai determinar o futuro da alimentação no mundo, porque 65% de toda a terra arável que não está ainda cultivada está em África", disse Akinwumi Adesina na sexta-feira ao final do dia, na conferência de imprensa de encerramento dos encontros anuais do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), que decorreram esta semana em Acra, capital do Gana.
Para o banqueiro, "África deve tornar-se a solução para a crise alimentar global" e o BAD está a apostar na agricultura africana, para garantir que, mesmo enquanto lida com a atual emergência alimentar, África impulsiona a transformação estrutural da agricultura.
"O mais importante para nós é que a agricultura vai diversificar as nossas economias, transformar o nosso meio rural, que infelizmente se tornou um local sem esperança, e criar empregos", disse.
O responsável defendeu ainda uma agricultura moderna, com tecnologia apropriada, produtividade e enquadrada com as infraestruturas necessárias, rodoviárias, de energia, de irrigação, logísticas.
"Chegou o tempo de África, não só produzir comida, mas também processar comida. Embalar comida. África deve ter padrões de qualidade nos alimentos que produz e deve exportar. Quando falamos de agricultura, não falamos de agricultura para manter a pobreza, mas sim para criar riqueza para áfrica", disse.
Adesina acrescentou que ao longo dos encontros anuais, os governadores do BAD também falaram sobre a questão da segurança, sublinhando que "o desenvolvimento só acontece quando há segurança".
"Devemos apoiar os países a abordarem a segurança, por isso deve haver uma ligação entre segurança, investimento, crescimento e desenvolvimento", afirmou.
O BAD anunciou na semana passada um Plano Africano de Produção Alimentar de Emergência, promovido em conjunto com a Comissão da União Africana, no valor de 1,5 mil milhões de dólares (1,4 mil milhões de euros) e que irá beneficiar 20 milhões de agricultores com sementes e fertilizantes, bem como outros insumos agrícolas para produzir 38 milhões de toneladas de alimentos, no valor de 12 mil milhões de dólares (11,2 mil milhões de euros).
Na segunda-feira, primeiro dia dos encontros do BAD, Adesina mostrou-se confiante de que África vai conseguir evitar a crise alimentar iminente com esse apoio.
O plano visa responder aos desafios que a guerra na Ucrânia provocou em África, "especialmente em termos dos elevados preços da energia, elevados preços dos fertilizantes e perturbações nas importações de alimentos", explicou Adesina.
"Com 30 milhões de toneladas de importações de alimentos, especialmente trigo e milho, que não chegarão da Rússia e da Ucrânia, África enfrenta uma crise alimentar iminente", lembrou o banqueiro, para justificar a iniciativa do BAD.
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