Pouco depois de as televisões divulgarem as primeiras projeções que dão um empate entre a Nupes e a coligação que apoia o atual Presidente francês, Emmanuel Macron, na primeira volta das eleições legislativas, dezenas de apoiantes de Mélenchon começaram a aglomerar-se diante da "Fabrique Événementielle", onde decorre a noite eleitoral da coligação de esquerda, no norte de Paris, para festejar os resultados.
"É magnífico, é uma esperança que renasce e que diz não está tudo perdido, que há verdadeiramente uma terceira volta. (...) Houve vontade de se voltar a ter uma voz, mas houve também muita gente que não veio votar (...) e que agora acham que [uma vitória] pode ser possível. Isso é que é magnífico: abre um caminho", disse à Lusa Christian, de 63 anos.
Para este sexagenário, os resultados abrem a possibilidade de, mesmo sem maioria absoluta, existir uma maioria que force Emmanuel Macron a uma coabitação e permita que Jean-Luc Mélenchon se torne primeiro-ministro.
"Seria uma nova sociedade, uma esperança doida! De um momento para o outro, entraríamos num mundo onde cuidamos daqueles que precisam. (...) Acabaríamos com esta arrogância do poder, e voltaríamos a ter algo de humano", perspetivou.
Danielle, de 76 anos, que assumiu ser uma "militante de longa data junto de Mélenchon", considerou que, com os resultados desta primeira volta, as perspetivas para a esquerda começam finalmente a melhorar.
"Tivemos altos e baixos e agora o cenário começa a iluminar-se, apesar de não ser uma altura muito positiva para a França e para a Europa. Vai ser preciso tratar dos problemas de maneira muito séria, e penso que os eleitores vão poder contar connosco para fazer o trabalho necessário", afirmou.
Amaury, de 27 anos, também se mostrou "agradavelmente surpreendido" com os resultados da primeira volta, por representar uma "progressão enorme" da esquerda, mas reconheceu que "está longe de ser uma vitória, porque ainda há a segunda volta".
Com "muita vontade de acreditar" na possibilidade de a Nupes obter uma maioria absoluta no próximo domingo, Amaury considerou, no entanto, que analisando o cenário político de maneira racional, essa probabilidade é muito baixa.
"A minha parte racional não está muito convencida. (...) Estou bastante pessimista quanto à maioria absoluta e à possibilidade de Mélenchon vir a ser primeiro-ministro", referiu.
Precisamente porque "nada está ganho", e os resultados de hoje à noite podem criar uma "dinâmica", Nathalie, de 54 anos, advogou que "é preciso continuar e dizer àqueles que se abstiveram ou que não concordam com o projeto de Macron: 'é agora ou nunca'".
"Eu vou estar no terreno esta semana, a convencer os eleitores", referiu.
Quanto ao futuro da Nupes após as legislativas, a maioria dos entrevistados converge que a sua manutenção seria algo de desejável. Amaury disse mesmo que a coligação deve continuar "porque acabou de provar que é uma força de esquerda que pesa".
"Foi, apesar de tudo, uma primeira volta histórica. (...) Gostaria que a coligação mantivesse o seu lado multipartidário, porque acho que a pluralidade de ideias, de opiniões e o debate é algo muito importante. Por isso, não gostaria que a coligação se transformasse apenas num único partido de esquerda", sublinhou.
As primeiras estimativas da primeira volta das eleições legislativas em França dão a coligação de esquerda liderada por Jean-Luc Melénchon e o partido de Emmanuel Macron com cerca de 25% dos votos, com muitos duelos na segunda volta.
Entre as estimativas feitas com os primeiros resultados saídos das mesas de voto que fecharam às 18:00, já que nas grandes cidades fecharam às 20:00 (19:00 em Lisboa), os gabinetes de estudos apontam para uma igualdade na primeira volta das eleições legislativas, com cerca de 25% de votos, uma perda para o partido de Emmanuel Macron.
A União Nacional de Marine Le Pen poderá ser a terceira força política podendo chegar aos 20%.
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