Numa reunião do Conselho de Segurança para debater a situação do Afeganistão, o subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, informou os diplomatas que cerca de 24 milhões de pessoas-- mais da metade da população do Afeganistão -- precisa de assistência humanitária, sublinhando a difícil situação a que as crianças afegãs estão submetidas.
"Estima-se que três milhões de crianças estejam desnutridas de forma aguda. Os números incluem mais de um milhão de crianças que podem sofrer da forma mais severa de desnutrição, com risco de vida. Sem tratamento especializado, elas podem morrer", disse o líder de Assuntos Humanitários da ONU.
De acordo com Griffiths, essa crise de desnutrição é alimentada por secas recorrentes, incluindo a pior em três décadas, registada em 2021, e cujos efeitos ainda são sentidos.
Entre os números que evidenciam as dificuldades extremas sentidas pelo povo afegão, Griffiths destacou ainda que oito em cada 10 afegãos bebem água contaminada, tornando-os suscetíveis a episódios repetidos de diarreia aquosa aguda.
"Cerca de 25 milhões de pessoas vivem agora na pobreza e três quartos dos rendimentos das pessoas são gastos em alimentos", disse o subsecretário-geral, recordando ainda eventos naturais que têm causado um grande impacto na vida daquelas pessoas, como um forte terramoto em junho ou grandes inundações em todo o país em julho, que mataram e feriram centenas de pessoas e destruíram, além de casas, milhares de hectares de plantações.
Apesar de destacar que muitos países em todo o mundo sofrem do mesmo tipo de problema, Griffiths frisou que o que torna a situação do Afeganistão tão crítica é o facto de a "assistência ao desenvolvimento em grande escala ter sido interrompida por um ano".
"Antes da tomada [do poder] pelos talibãs, o Afeganistão já enfrentava graves níveis de insegurança alimentar e desnutrição. Esses níveis deterioraram-se desde que a ajuda ao desenvolvimento foi interrompida, afetando famílias em todos os lugares, das comunidades rurais aos centros urbanos. O ambiente operacional é excecionalmente desafiador", denunciou Griffiths, chamando a atenção para a situação das mulheres e meninas, que "foram deixadas à margem".
Esta reunião do Conselho de Segurança foi convocada pela Rússia, que citou a necessidade de discutir a "situação humanitária e económica e outras consequências da intervenção militar norte-americana e da NATO" no Afeganistão.
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