"As Nações Unidas têm capacidades humanas e institucionais que são fundamentais para apoiar Cabo Verde na sua reflexão estratégica quanto ao futuro, na fixação dos cenários e na busca dos melhores caminhos", afirmou José Maria Neves, em declarações aos jornalistas após visitar a representação da organização, na Praia.
A visita do chefe de Estado insere-se na Semana das Nações Unidas, que decorre de 24 de (77.º aniversário da instituição) a 28 de outubro. Na segunda-feira, o Governo de Cabo Verde assinou com o Sistema das Nações Unidas um novo acordo para o programa-quadro de cooperação 2023-2027, no valor de 115 milhões de dólares, que aumenta 20% face ao atualmente em vigor e que aposta sobretudo na erradicação da pobreza extrema no arquipélago, cujas linhas principais foram apresentadas hoje ao chefe de Estado.
"As Nações Unidas podem ajudar-nos também a mobilizar parceiros técnicos, estratégicos, financeiros, etc. Para acelerarmos o passo no processo global de desenvolvimento de Cabo Verde", defendeu José Maria Neves.
O arquipélago enfrenta uma profunda crise económica e financeira, decorrente da forte quebra na procura turística -- setor que garante 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do arquipélago -- desde março de 2020, devido à pandemia de covid-19.
Para 2022, devido às consequências económicas da guerra na Ucrânia, o Governo cabo-verdiano baixou a previsão de crescimento de 6% para 4%.
José Maria Neves acrescentou que o país "precisa das Nações Unidas" sobretudo para ajudar "a pensar estrategicamente o desenvolvimento de um pequeno Estado insular, como é Cabo Verde", reconhecendo que a cooperação com a organização tem sido profícua e produtiva.
"Todos sentimos orgulhosos do percurso que fizemos juntos", disse, enfatizando que a importância das Nações Unidas não está no pacote dos recursos, mas na intangibilidade das possibilidades que cria. E sem esta relação com as Nações Unidas, o percurso de Cabo Verde "seria muito mais difícil", admitiu ainda o chefe de Estado.
"As Nações Unidas, desde o primeiro momento, foram um grande parceiro. Lançámos as sementes do desenvolvimento de Cabo Verde, conseguimos mobilizar recursos de outros parceiros com o chapéu das Nações Unidas para fazermos face, num primeiro momento, à insegurança alimentar", recordou.
"No momento da independência, estávamos mais ou menos com sete anos de seca severa e depois, para lançarmos os alicerces do desenvolvimento de Cabo Verde, a construção do Estado, os investimentos na educação e na saúde, na segurança social, na agricultura e nos diferentes aspetos de desenvolvimento de Cabo Verde, as Nações Unidas foram essenciais", disse ainda.
Para José Maria Neves as Nações Unidas "foram muito importantes no pensamento estratégico de um pequeno Estado insular" e ajudaram "a construir os consensos, a difundir ideias novas sobre o processo de desenvolvimento e, sobretudo, a formar políticas públicas orientadas para o crescimento sustentável" do país.
Afirmou igualmente que "apesar de toda a devastação provocada pela pandemia e pelas crises sucessivas que vêm desde 2008", que "foram agora agravadas com os conflitos e a guerra na Ucrânia", Cabo Verde ainda pode atingir as metas de desenvolvimento sustentável para esta década, definidas pelas Nações Unidas.
"Se fizermos o nosso trabalho de casa e se mobilizarmos os recursos necessários com o apoio das Nações Unidas, conseguiremos no horizonte 2030, realizar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável", disse, após reunir-se com a diplomata portuguesa Ana Graça, coordenadora residente do Sistema das Nações Unidas em Cabo Verde e que está em final de missão no arquipélago.
"As Nações Unidas têm estado a acompanhar Cabo Verde desde a sua independência e têm estado nos grandes momentos, nos grandes saltos que o país tem dado. Lembro-me da independência vacinal, a questão da autossuficiência alimentar foram marcas muito importantes no desenvolvimento do país e para o qual as Nações Unidas contribuíram, desde o momento da sua graduação como país de renda média baixa", afirmou Ana Graça, aos jornalistas.
"Temos estado sempre, sempre, de uma forma muito próxima, com muito respeito e com muita proximidade a trabalhar com Cabo Verde para Cabo Verde, seja aqui no país, seja a nível internacional ou regional, para mostrar também as boas práticas de Cabo Verde", acrescentou.
Para os próximos cinco anos, no âmbito no novo quadro de cooperação entre Cabo Verde e o sistema das Nações Unidas, Ana Graça destaca como prioridade "a importância de continuar a pôr as pessoas no centro da sua ação".
"O mundo está a atravessar uma crise muito grave, que afeta também Cabo Verde, naturalmente, e em que os mais vulneráveis têm que estar no centro da nossa atenção nos próximos anos, ao mesmo tempo que estamos a transformar e a trabalhar para uma economia que seja promotora da transição energética, que seja promotora do meio ambiente saudável e com instrumentos de planeamento, de governação, de proximidade das pessoas, do poder de decisão mais fortes", reconheceu Ana Graça, que termina a missão na Praia nos próximos dias para assumir funções, em novembro, no Panamá.
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