O Irão tem sido palco de protestos desde a morte, em 16 de setembro, da jovem curda iraniana, que morreu três dias após ter sido presa em Teerão pela polícia da moral por violar o rigoroso código de vestuário do país, que inclui o uso do véu em público.
Dezenas de pessoas, principalmente manifestantes, mas também membros das forças de segurança, foram mortas durante os protestos, descritos como "tumultos" pelas autoridades. Centenas de outras, incluindo mulheres, foram presas.
O diário reformista Sazandegi noticiou hoje que "mais de 20 jornalistas ainda estão detidos", especialmente em Teerão, mas também em outras cidades. Várias outros foram convocadas pelas autoridades, acrescentou o jornal.
Segundo os meios de comunicação locais, mais de 300 jornalistas e fotojornalistas iranianos assinaram uma declaração denunciando as autoridades por "prenderem colegas e os privarem dos seus direitos de cidadania após as detenções".
"Foi-lhes negado o acesso aos seus advogados, interrogados e acusados antes de serem presentes a tribunal", acrescenta a declaração, apelando às autoridades para que libertem os jornalistas.
Numa declaração publicada no jornal Etemad, a Associação de Jornalistas de Teerão classificou como "ilegal" e "em conflito com a liberdade" da imprensa "a abordagem securitária" da profissão de jornalista.
O sindicato referia-se a um longo relatório publicado na sexta-feira pelos serviços de segurança do país sobre as origens dos protestos e a alegada "intervenção dos EUA nos recentes tumultos" no Irão.
No mesmo documento, acusaram os ocidentais de organizarem "cursos de formação" para iranianos com o objetivo de mudar o poder no Irão.
Em particular, acusava dois jornalistas, identificando-os pelas iniciais dos seus nomes, de terem recebido tal formação e de terem "atuado como fontes primárias para os meios de comunicação social estrangeiros".
Segundo os meios de comunicação locais, o relatório referia-se à jornalista Elaheh Mohammadi, do diário Sazandegi, e ao fotógrafo Niloufar Hamedi, do jornal Shargh, que tinham ajudado a divulgar o caso de Mahsa Amini e que estiveram detidos durante semanas.
"O nosso jornalista e o nosso jornal (...) atuaram no âmbito da sua missão jornalística", disse o editor do Shargh Mehdi Rahmanian, acrescentando que Hamedi não foi o primeiro a relatar a morte da jovem mulher.
O jornal Sazandegi criticou o relatório dos serviços secretos, acrescentando que "visar os jornalistas levaria à destruição dos meios de comunicação social".
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