Menino que sobreviveu a naufrágio fugia de talibãs que mataram pais

Afegão, de apenas 12 anos, tentou atravessar o Canal da Mancha para chegar ao Reino Unido.

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© Raymond Strachan

Notícias ao Minuto
02/01/2023 15:17 ‧ 02/01/2023 por Notícias ao Minuto

Mundo

Migrantes

Um menino, de 12 anos, que fugiu do Afeganistão depois de os talibãs terem matado os pais, sobreviveu, no passado mês de dezembro, ao naufrágio de um bote com cerca de 40 migrantes, que atravessava o Canal da Mancha para chegar ao Reino Unido.

A criança foi uma das 39 pessoas que a tribulação do barco de pesca Arcturus conseguiu salvar. Pelo menos quatro não tiveram a mesma sorte.

Em entrevista ao The Sunday Post, o comandante da embarcação, Raymond Strachan, de 54 anos, contou o que aconteceu.

"O mar estava calmo, mas havia uma névoa estranha na água. A certa altura, começamos a ver pessoas a nadar na nossa direção […]. Montamos de imediato uma escada e eles subiram. Tínhamos 16 pessoas a bordo quando perdemos de vista o bote. Estava escuro como breu, apenas ouvíamos pessoas a gritar", descreveu.

Foi então, que navegou em direção ao som e conseguiu aproximar-se do bote. Aí "foi caótico". Tentavam alcançar o barco de pesca, uns por cima dos outros.

Nesta confusão, duas pessoas acabaram por se afundar com o bote. Outras duas foram encontradas mortas no mar, muito provavelmente, devido a hipotermia.

Ainda assim, a tragédia podia ter sido pior. De acordo com o comandante, o bote insuflável, construído para navegar com 12 passageiros, trazia mais do triplo do peso indicado.

"Alguns nem colete salva-vidas tinham. O fundo do bote rasgou-se por estar sobrecarregado e começou a entrar água. A certa altura dobrou-se sobre si mesmo e afundou-se", explicou, acrescentando que houve um caso em especial que o tocou.

"Uma das pessoas mais novas [que resgataram] era um menino afegão. Ele foi dos primeiros com quem falei porque parecia mesmo muito jovem. Perguntei-lhe quantos anos tinha e ele disse-me 12. Tirei-lhe o casaco molhado e o colete salva-vidas e disse-lhe para descer [no barco de pesca] e tomar um banho quente. Queria garantir que ele estava quente, seco e seguro", contou o comandante que foi instruído a levar os sobreviventes para Dover.

Alguns dias depois, um polícia ligou-lhe com uma mensagem do menino que tinha salvado. "Ele queria agradecer terem-lhe salvado a vida porque pensou que ia morrer. Contou que tinha fugido do Afeganistão porque a sua família foi morta pelos talibãs. Fiquei muito emocionado. Não consigo imaginar o que é ter 12 anos e estar naquela água. Quando eu tinha essa idade, estava no conforto de casa, a ser cuidado pela minha família, fazia carrinhos com caixotes velhos, não estava a ser resgatado do mar", sublinhou Raymond.

"Quem sabe ele consiga estudar cá [Reino Unido], trabalhar no duro e, daqui a 15 anos, ele seja o médico que me vai salvar a vida", acrescentou o comandante.

Além do menino afegão, no dia do naufrágio, a 14 de dezembro, a tripulação do Arcturus salvou outras sete crianças.

De acordo com os migrantes salvos, cada um deles pagou 5 mil euros para fazer esta perigosa viagem. As autoridades britânicas estimam que, só no ano passado, 45 mil pessoas tenham feito a travessia.

Uma das maiores tragédias do Canal da Mancha aconteceu em novembro de 2021, quando uma pequena embarcação com dezenas de pessoas naufragou matando pelo menos 27 pessoas.

Leia Também: Mais de 45 mil migrantes atravessaram ilegalmente Canal da Mancha em 2022

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