Uma das aldeias cujas estruturas foram demolidas na terça-feira faz parte de uma zona árida da Cisjordânia conhecida como Masafer Yatta, que o exército israelita definiu como uma área de treino com fogo real.
Cerca de 1.000 residentes dos oito povoados que formam Masafer Yatta serão despejados, uma ordem confirmada em maio de 2022 pelo Supremo Tribunal de Israel, após uma batalha judicial de duas décadas.
De acordo com imagens partilhadas por habitantes e ativistas locais, veículos blindados escoltaram maquinaria de construção civil para efetuar as demolições nas aldeias de Ma'in e Shaab al-Butum, que fazem parte de Masafer Yatta.
Since nine o'clock in the morning, the occupation soldiers have destroyed more than four houses in Masafer Yatta and many barrels of water. The occupation forces are still continuing to destroy homes to implement the plan to ethnically cleanse us from here. pic.twitter.com/FLG0b69pBk
— #SaveMasaferYatta (@basel_adra) January 3, 2023
Guy Butavia, um ativista do grupo de direitos israelo-palestiniano Taayush, disse que o exército destruiu cinco habitações, currais e cisternas de água, despejando o conteúdo das casas das pessoas no frio deserto.
"Eles vêm e demolem as casas. É inverno. Está frio. E depois? Onde é que as pessoas vão dormir nessa noite?", questionou.
A maioria dos habitantes daquela zona mantiveram-se no local desde a decisão judicial, apesar de as forças de segurança israelitas periodicamente aparecerem para demolir estruturas. Mas poderão ser expulsos a qualquer momento.
As autoridades locais e os grupos de direitos humanos afirmaram que os responsáveis da Defesa israelita os informaram de que em breve removerão à força mais de 1.000 residentes daquela zona.
"Existe uma genuína preocupação de que um grave crime de guerra seja cometido", declarou uma porta-voz da Associação pelos Direitos Civis em Israel (ACRI), Roni Pelli.
Contactada pela agência de notícias norte-americana Associated Press (AP), a COGAT, entidade da Defesa israelita que lida com os assuntos civis palestinianos, escusou-se a emitir qualquer comentário.
Ambas as aldeias se situam nos 60% da Cisjordânia ocupada conhecidos como Área C, onde o exército israelita exerce total controlo, nos termos dos acordos de paz provisórios alcançados com os palestinianos na década de 1990.
Construções palestinianas erigidas sem autorização militar -- que os residentes afirmam ser quase impossível de obter -- estão em risco de demolição.
As demolições de terça-feira ocorreram no contexto de um novo Governo em Israel, liderado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, no qual proponentes da construção de mais colonatos na Cisjordânia ocupam pastas influentes e se espera não só que impulsionem a construção de colonatos israelitas como que impeçam e destruam as construções de palestinianos na Área C.
As famílias que habitam em Masafer Yatta afirmam que já pastoreavam os seus rebanhos de ovelhas e cabras naquela zona muito antes de Israel ter conquistado a Cisjordânia na guerra de 1967 no Médio Oriente.
Mas Israel diz que os beduínos árabes nómadas não tinham construções permanentes quando o exército declarou a zona uma área de treino com fogo real, no início dos anos 1980.
Em novembro de 1999, as forças de segurança expulsaram cerca de 700 aldeões e destruíram as suas casas e cisternas de água.
Uma batalha judicial de 20 anos começou no ano seguinte e terminou em 2022, com o Supremo Tribunal israelita a recusar mais uma audiência, em outubro, sobre a expulsão dos habitantes palestinianos.
Embora anteriores Governos israelitas tenham, durante décadas, demolido casas naquela área, espera-se que o atual executivo aumente mais ainda as demolições de construções palestinianas na zona.
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