Save the Children retoma parcialmente trabalho humanitário no Afeganistão

A organização não-governamental (ONG) Save The Children anunciou hoje a retomada das suas atividades humanitárias em várias zonas do Afeganistão, onde as autoridades talibãs decidiram levantar parcialmente o veto contra as suas funcionárias.

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Lusa
15/01/2023 18:36 ‧ 15/01/2023 por Lusa

Mundo

Afeganistão

O anúncio surge três semanas após o veto generalizado do movimento fundamentalista talibã contra as funcionárias humanitárias no país -- e depois de outros contra a educação secundária e universitária feminina --, que obrigou estas organizações a suspender as operações.

A Save the Children indica que irá retomar as atividades após ter recebido "garantias claras e fiáveis por parte das autoridades relevantes" de que "as funcionárias estarão a salvo e poderão trabalhar sem interferências".

A maioria dos programas da organização ainda está, contudo, suspensa por falta de garantias.

De acordo com o chefe das operações da ONG, David Wright, "as mulheres são essenciais" porque representam 50% da força de trabalho humanitário no país e são treinadas para falar com mulheres e meninas afegãs.

Quatro grandes agências humanitárias alertaram, no final de dezembro de 2022, que a proibição de as mulheres trabalharem em grupos não-governamentais, no Afeganistão, iria causar mortes, já que as funcionárias são cruciais para a prestação de assistência no país.

As organizações - Save the Children, Care, World Vision e Conselho Norueguês para os Refugiados -- anunciaram então, numa conferência de imprensa conjunta, que iriam suspender as suas operações no Afeganistão.

"Se não conseguirmos realizar as nossas operações, muitas crianças vão morrer. Centenas de milhares de pessoas vão morrer, a situação é muito grave", disse, na altura, a diretora executiva da Save the Children International, Inger Ashing.

O alerta foi feito na sequência do anúncio do Ministério da Economia afegão a proibir as mulheres de continuarem a trabalhar em ONG nacionais ou internacionais, alegadamente porque não usam, no local de trabalho, o lenço islâmico, ou 'hijab', de forma correta.

A ordem foi mais um golpe nos direitos e liberdades das mulheres desde que os talibãs assumiram o poder 'de facto' no país, em agosto de 2021.

A medida gerou uma onda de condenação internacional, com as Nações Unidas e vários países do Ocidente a pedir aos talibãs que revertessem a decisão de imediato, até porque o país enfrenta uma crise humanitária cada vez mais profunda, além de um inverno rigoroso e um colapso económico.

As quatro agências lembraram que o Afeganistão está a enfrentar uma das piores crises da sua História, com seis milhões de pessoas à beira da fome.

Apesar de inicialmente terem prometido um Governo mais moderado, com respeito pelos direitos das mulheres e das minorias, os talibãs têm adotado uma interpretação cada vez mais fundamentalista da lei islâmica, ou 'sharia'.

Além de proibirem a frequência por meninas do ensino primário, médio e universitário, barraram as mulheres da maioria dos setores de trabalho e ordenaram-lhes o uso, em público, de roupas que as tapem da cabeça aos pés.

A sociedade afegã, embora muito tradicional, tinha adotado nos últimos 20 anos, sob influência dos Estados Unidos e aliados, o hábito de enviar as meninas e mulheres para a escola.

Leia Também: Afeganistão. Talibãs defendem lei islâmica sobre os direitos das mulheres

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