A obra deve permitir que várias centenas de crianças deixem de ter aulas ao relento, debaixo de árvores, em Matibane, arredores da cidade de Nampula, numa escola com 1.200 alunos que funciona até ao 9.º ano.
As únicas salas em alvenaria que ali existem já tinham sido construídas pela Helpo, em 2016, enquanto as restantes são feitas de estacas e barro, com coberturas de zinco -- e não chegam para todos os alunos.
Nestas salas precárias, parte das paredes já está descascada com a chuva, deixando as estacas à vista, buracos na estrutura e telhados de zinco quase a tombar.
Não há eletricidade na escola e o tamanho dos buracos na parede cresce, de tal forma que acabam por deixar entrar mais luz natural nas salas, apinhadas.
Não há espaço para todos e os mais novos têm de ter aulas debaixo de árvores de grande porte - a secretária permanente distrital de Nampula, Adelina Dulce, frisou hoje que há, pelo menos, 20.000 alunos no distrito nestas mesmas condições.
A embaixada do Japão e a Helpo visitaram a escola para assinar o acordo de construção das cinco novas salas, um momento que juntou alunos e professores em festa.
É como concretizar "um sonho muito grande", frisou César Cardoso, diretor do estabelecimento de ensino.
"As novas salas devem estar prontas ainda este ano", referiu Carlos Almeida, coordenador da Helpo em Moçambique, ONG que desde 2008 já construiu 54 salas de aula naquela província do norte do país -- a que se juntam mais 29 em Cabo Delgado.
O Japão vai financiar a obra de Matibane com cerca de 90.000 mil euros, naquela que é a segunda escola que financia, tendo a Helpo como entidade implementadora, depois de uma obra em Jembesse, na Ilha de Moçambique, em 2019.
"Moçambique pode fazer grandes progressos se investir na educação", destacou Shogo Jikuhara, primeiro secretário da embaixada do Japão, que mostra a experiência do seu próprio país na formação de recursos humanos para querer replicar o sucesso.
A construção e reabilitação de salas de aula tem sido uma das prioridades da cooperação japonesa em Moçambique.
No horizonte, para Matibane está outro projeto da Helpo que consiste na instalação de painéis solares: o objetivo é que haja eletricidade na escola e assim equipá-la com uma sala de computadores e abrir ensino noturno para adultos.
A utilização de fonte solar pretende ali servir de modelo para replicar noutros estabelecimentos de ensino remotos.
Nampula é a província mais populosa de Moçambique com quase seis milhões dos 32 milhões de habitantes do país (cerca de metade com menos e 20 anos) e em que a Helpo tem uma intervenção permanente.
As ações incluem um programa designado "lanche escolar" que beneficia nove escolas de Nampula (cerca de 12 mil alunos) -- incluindo Matibane -- e em que a Helpo entrega, uma vez por semana, sacos de farinha para cada comunidade produzir pão, e porções de açúcar, entregues para se fazer chá, cultivado nas instalações da escola.
Outra iniciativa da ONG consiste na atribuição de bolsas de estudo que garantem a matrícula, uniforme e material escolar para o ensino secundário, num apoio que começa em 40 euros por ano, por estudante.
"A distância que os alunos têm de percorrer a pé para chegar à escola secundária é só uma das dificuldades, há muitas outras" que os programas tentam resolver, concluiu Carlos Almeida.
*** A Lusa viajou a Nampula a convite da Helpo ***
Leia Também: Autoridades moçambicanas emitem alerta face a risco de inundações em Gaza