O programa, que já tinha gravado quatro episódios, deveria estrear no outono com o título 'Insider, faccia a faccia con il crimine' (cara a cara com o crime) e a emissora pública defende o cancelamento devido à "incompatibilidade com o código de ética da empresa".
"Trata-se de uma decisão comercial e não política", declarou o novo presidente executivo da RAI, Roberto Sergio, recentemente nomeado pela primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, numa entrevista ao Il Messaggero.
No entanto, o facto de Saviano ser arguido num processo judicial posto pela atual primeira-ministra acendeu a polémica em Itália sobre os verdadeiros motivos do cancelamento, numa altura em que vários jornalistas históricos do canal abandonaram a empresa pública, acusando-a de manipulação.
"É apenas um pretexto para justificar a decisão", protestou o próprio Saviano em declarações ao diário La Stampa, onde apontou o dedo diretamente ao Governo.
O diferendo com Meloni começou quando o intelectual, no programa televisivo Piazzapulita de 7 de dezembro de 2020, denunciou a alegada utilização política que a extrema-direita estava a fazer do fenómeno da imigração no Mediterrâneo central.
"Devem ter vindo à mente todos os disparates lançados contra as ONG, a que chamam 'táxis marítimos' ou 'navios de cruzeiro'. Tudo o que posso dizer é: bastardos. Para Meloni e (Matteo) Salvini, seus bastardos, como podem?", disse no ecrã, enquanto ouvia uma mulher que perdeu o filho no mar.
Depois destas palavras, Meloni apresentou uma denúncia por difamação e o julgamento está a decorrer no tribunal de Roma, que no mês passado decidiu não chamar a política para testemunhar.
Saviano, que vive sob proteção policial por ter exposto os meandros da máfia em livros como o seu best-seller 'Gomorra' (2006), foi também denunciado no tribunal de Roma por Matteo Salvini, atual vice-presidente e ministro dos Transportes de Itália.
Em particular, o político de extrema-direita Salvini denunciou o escritor por o ter descrito como "ministro da Má Vida", um termo que se refere à máfia.
Leia Também: Meloni e von der Leyen unem forças para acabar com tráfico de imigrantes