Praticamente três anos depois da revista The Atlantic revelar opiniões fortes e ofensivas de Donald Trump contra veteranos de guerra e militares norte-americanos enquanto era presidente, o general John Kelly, que foi chefe de gabinete da Casa Branca durante uma grande parte do seu mandato, confirmou na segunda-feira os comentários ditos em privado pelo antigo presidente.
Numa série de comentários divulgados pela CNN Internacional, Kelly, ele próprio um general e antigo líder da Marinha norte-americana, acusou Trump de mentir em público sobre os militares, sobre a sua visão sobre minorias étnicas e sobre o aborto, enquanto que em privado tinha opiniões muito mais ofensivas.
"Uma pessoa que acha que quem defende o seu país em uniforme, o que foi alvejado, ou gravemente ferido em combate, ou passou anos torturado como prisoneiro de guerra, são todos 'falhados' porque 'não há benefício para eles'. Uma pessoa que não queria ser vista na presença de militares amputados porque 'não é um bom visual para mim'", atirou Kelly, enumerando várias circunstâncias em que o ex-presidente - e novamente candidato à Casa Branca - mostrou desprezo.
Os comentários explicados por Kelly já tinham sido revelados pela revista The Atlantic, em setembro de 2020 (antes das eleições presidenciais, que Trump perdeu contra Joe Biden), com o jornalista Jeffrey Goldberg a revelar que, em 2017, durante uma cerimónia de homenagem a americanos mortos no Afeganistão e no Iraque, o então líder do país questionou a motivação para combater.
A verdade é que os comentários confirmados por John Kelly não serão uma surpresa para muitos, visto as opiniões públicas de Trump sobre ex-militares, como George H. W. Bush e John McCain, sendo que este último foi um prisioneiro de guerra durante cinco anos e, mesmo assim, Trump acusou-o de "não ser um herói" e de ser um "falhado".
Noutro incidente, em 2018, na visita ao cemitério em França de soldados norte-americanos mortos na Segunda Guerra Mundial, Trump terá dito que os fuzileiros caídos em combate eram "estúpidos".
John Kelly referiu ainda que Trump é "uma pessoa que admira autocratas e ditadores assassinos" e que "não tem qualquer respeito pelas instituições democráticas, pela constituição e pelo Estado de Direito".
"Deus nos ajude", rematou Kelly, lamentando o facto de, apesar de todos os processos criminais, polémicas, acusações e comentários ofensivos, Donald Trump mantém-se como o grande favorito à nomeação pelo Partido Republicano para as eleições presidenciais de 2024.
A campanha de reeleição do ex-presidente comentou as declarações à NBC News, com a porta-voz a considerar que Kelly é "um palhaço de si próprio" que "inventou estas histórias porque não serviu corretamente o seu presidente quando trabalhou como chefe de gabinete".
John Kelly saiu do cargo em 2018, depois de um período na Casa Branca marcado por muito conflito com o presidente, especialmente sobre questões diplomáticas, sobre a disposição constantemente mutável de Trump e sobre posições sobre as forças armadas.
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