"As autoridades (nigerianas) não tomaram medidas concretas para fazer justiça, prestar contas ou garantir que as suas operações protejam melhor os civis no futuro", disse a HRW num comunicado.
"Desde 2017, mais de trezentas pessoas foram mortas em ataques aéreos que as forças de segurança disseram ter como alvo "bandidos" ou membros do grupo armado islâmico Boko Haram, mas que, em vez disso, atingiram populações locais", acrescentou a organização não-governamental (ONG) de defesa dos direitos humanos.
A declaração da HRW surge como reação a um ataque aéreo do exército nigeriano no último domingo que matou acidentalmente, pelo menos, 85 civis e feriu 66 no norte do país, de acordo números das forças armadas nigerianas, e que a Amnistia Internacional, citando fontes locais, coloca em, pelo menos, 120 mortos.
A ONG junta a sua voz à do Gabinete das Nações Unidas para os Direitos Humanos, que esta quarta-feira apelou a uma "investigação exaustiva e imparcial" do incidente.
"É inaceitável que o exército nigeriano continue a matar pessoas, através de ataques aéreos, que estão simplesmente a tentar prosseguir com as suas vidas", afirmou a investigadora da HRW para a Nigéria, Anietie Ewang, citada no comunicado.
"É necessário um escrutínio das atividades das forças de segurança para evitar mais mortes e proceder à reparação das famílias das vítimas, começando por uma investigação independente, imparcial e transparente", acrescentou.
A HRW contactou testemunhas, que explicaram que a primeira bomba atingiu a cidade de Tundun Biri, no estado de Kaduna, no norte do país, por volta das 21:45 horas locais (20:45 TMG), quando centenas de pessoas estavam a celebrar o nascimento do profeta Maomé (festival Mawlid).
A explosão causou a morte de cerca de 56 pessoas, incluindo muitas crianças, e fez um largo número de feridos, o que levou a população local a chamar outras pessoas das aldeias vizinhas para ajudar a transportar os que não conseguiam deslocar-se.
Por volta das 23:00 horas locais (22:00 TMG), caiu uma segunda bomba, matando muitas das pessoas que tinham vindo ajudar.
"Estava a abraçar o meu filho, que tinha uma perna partida, quando a segunda bomba foi lançada sobre nós. Perdi os meus cinco filhos e a mãe deles", disse uma das vítimas à HRW.
Alguns estados nigerianos - particularmente no centro e noroeste do país - estão a ser atacados incessantemente por "bandidos", um termo utilizado no país para descrever bandos criminosos que cometem assaltos em massa e raptos, a troco de resgates, e que são por vezes rotulados de "terroristas" pelas autoridades.
Os ataques são recorrentes, apesar das repetidas promessas do Governo nigeriano de pôr fim à violência através do destacamento de mais forças de segurança.
Esta insegurança é agravada desde 2009 pela atividade do grupo extremista islâmico Boko Haram no nordeste do país e, desde 2016, também pelo Estado Islâmico na Província da África Ocidental (ISWAP), aliado à Al-Qaida.
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