No final de um encontro em Madrid com o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, o Presidente da República de Cabo Verde disse aos jornalistas que a questão da "segurança no Golfo da Guiné, das migrações, da segurança e da estabilidade na região" foram um dos temas abordados entre os dois.
"É uma questão importante para a Cabo Verde, para os países ribeirinhos, mas também para Espanha e para União Europeia. E, nessa linha, discutimos a possibilidade de fazermos uma cimeira entre o Reino da Espanha e a CEDEAO [Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental] para discutirmos esta e um conjunto de outras questões extremamente importantes que se referem ao desenvolvimento e à cooperação económica entre Espanha e a CEDEAO", afirmou.
Segundo José Maria das Neves, nessa cimeira haverá "oportunidade de discutir toda a problemática das migrações, a questão do terrorismo, dos tráficos e todos esses elementos importantes".
Espanha está a lidar com um pico inédito de chegadas de migrantes, de forma irregular, às Canárias, sobretudo, desde meados do ano passado.
Só entre janeiro e 15 de março, o número de migrantes que chegou ao arquipélago em embarcações precárias conhecidas como 'pateras' oriundas da costa ocidental de África aumentou 469% em relação ao ano passado, segundo dados oficiais.
O Governo espanhol atribui, sobretudo, à instabilidade na região do Sahel este aumento dos números e tem promovido e defendido mais cooperação bilateral e entre a União Europeia e países africanos de origem e trânsito de migrantes para responder a esta questão.
José Maria das Neves lembrou hoje que Espanha e Cabo Verde já têm um acordo bilateral na área da segurança para proteção das costas cabo-verdianas com patrulhas conjuntas "que tem sido muito bem sucedido".
"Mas é possível alargar ainda mais essa cooperação", acrescentou, lembrando que existem acordos também com outros países da União Europeia (como Portugal) e com o Reino Unido.
"Podemos continuar a trabalhar com Espanha e com os outros países da União Europeia, alargar essa cooperação em termos de segurança cooperativa e também procurar parcerias com a NATO, com o apoio aqui de Espanha", disse ainda José Maria das Neves, que sublinhou que os primeiros exercícios militares da NATO (a aliança de cooperação em Defesa entre países europeus e da América do Norte) foram precisamente em Cabo Verde, em 2006.
A data da cimeira entre Espanha e a CEDEAO "vai ser discutida e será fixada pelos canais diplomáticos", explicou o Presidente cabo-verdiano à Lusa, sem dar mais detalhes.
José Maria das Neves iniciou hoje uma visita oficial a Espanha que, durante uma semana, o levará a diversas regiões do país, para encontros com autoridades nacionais e locais e com as comunidades cabo-verdianas, e à conferência da Década dos Oceanos promovida pela Unesco, a agência das Nações Unidas para o educação, ciência e cultura.
A visita arrancou com o encontro com Pedro Sánchez e o programa inclui ainda uma reunião com o chefe de Estado de Espanha, o Rei Felipe VI, na próxima semana, em Madrid.
Sobre o encontro de hoje, José Maria das Neves disse que foi "riquíssimo" e abordou "as relações bilaterais entre os dois países", que são "muito boas em vários domínios", como o ensino superior, ciência e inovação, a agricultura, a pecuária, o turismo, os transportes ou a segurança.
Foram também abordadas questões multilaterais e da agenda internacional, como as guerras que marcam a geopolítica atual e os impactos das alterações climáticas, assim como as relações entre Cabo Verde e a União Europeia, acrescentou José Maria das Neves, antes de realçar que há uma "parceria especial" entre das duas partes "em que Espanha desempenhou um papel importante ao lado de Portugal".
Já Pedro Sánchez, destacou numa publicação na rede social X, que abordou com José Maria das Neves "o fortalecimento" das relações bilaterais entre os dois países "e as oportunidades de investimento em áreas como a dessalinização e a indústria pesqueira".
"Espanha e Cabo Verde partilham um firme compromisso com a luta contra a emergência climática, a seca e a desertificação", escreveu ainda o primeiro-ministro de Espanha.
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