"Com o Pacto de Maio, o presidente Milei procura mostrar apoio à sua gestão. Nestes seis meses de governo, Milei aplicou um plano de ajuste e agora precisa, para os seus objetivos futuros, de mais apoio. Milei está a procurar que os dirigentes, governadores e legisladores assinem por baixo dos pontos que o governo que atingir", disse à Lusa o cientista político e historiador argentino, Gustavo Marangoni.
A estratégia visa remendar na prática a maior dificuldade para Milei governar. O Presidente argentino foi eleito em novembro passado com 55,7% dos votos, mas só possui 10% dos senadores e 15% dos deputados, insuficiente para aprovar qualquer reforma estrutural.
Hoje de madrugada, na cidade de Tucumán, a 1.300 Km a Noroeste de Buenos Aires, onde foi declarada a Independência da Argentina há 208 anos, Javier Milei começou a construir o seu projeto de refundação do país com uma espécie de "Dez Mandamentos" para a prosperidade da Argentina.
Incluem compromissos com o equilíbrio fiscal e com a redução da despesa pública e um conjunto de reformas como a tributária, a laboral e a previdenciária, passando pela abertura comercial do país e pelo corte nas burocracias que travam o crescimento económico.
O "Pacto de Maio" estava previsto para 25 de Maio, dia da Revolução de 1810 que derivaria na Independência do país seis anos depois, mas com a demora na aprovação da chamada "Lei Bases", um conjunto de ferramentas básicas do governo, foi adiado para o dia da Independência.
O governo Milei entra formalmente numa nova fase. O decálogo de objetivos através dos quais Milei promove o consenso dos líderes políticos indica que essa nova fase é a das reformas estruturais na economia.
"O Pacto de Maio é uma tentativa de consenso, mas, de qualquer forma, por mais que não pareça, Milei é funcional para todos porque está a fazer o que o sistema político não teve nunca coragem: pôr o dedo na tomada elétrica das reformas estruturais", indicou à Lusa o analista político e especialista em opinião pública, Jorge Giacobbe.
Giacobbe acaba de publicar uma nova sondagem na qual Milei possui 54,7% de imagem positiva, sendo o político com mais alta taxa de aprovação, apesar da recessão económica de 5,1% no primeiro trimestre e da inflação de 112% nos primeiros seis meses de governo.
"Milei terá o apoio de uma parte do sistema político, mas a outra parte também quer que ele governe, só não quer aparecer, quer ficar nos bastidores porque querem que Milei faça o trabalho sujo, pagando os custos políticos de medidas impopulares", observou Giacobbe.
"O governo Milei começou em 10 de dezembro com a luta contra a inflação. Agora, começa uma nova fase na qual a opinião pública diz ao presidente: 'Agora, você tem as ferramentas para solucionar o problema, então, resolva o problema'. Se Milei não resolver, pagará um custo por isso", acrescentou.
Para conseguir as reformas, Milei precisa de um consenso político que o Pacto de Maio procura evidenciar, ao mesmo tempo que expõe aqueles que não aderem às suas ideias.
Dos 24 governadores das províncias, 18 participaram. Dos seis ex-presidentes ainda vivos, participam dois, com destaque para o até agora aliado Mauricio Macri. Os opositores, liderados pela ex-presidente Cristina Kirchner, rejeitam qualquer sintonia com Milei.
O analista Gustavo Marangoni apontou ainda a estratégia do presidente Javier Milei de usar o apoio político ao Pacto de Maio para construir uma coligação de direita da qual o próprio Milei seja o líder para as eleições legislativas de outubro de 2025, quando será renovada metade do Senado e um terço da Câmara de Deputados. Essa estratégia visa substituir Mauricio Macri como referência das forças de direita.
"Há uma metade da população que até aqui acompanhou Milei e outra metade que não. Dentro da metade que o apoia, Milei está a tentar ser a principal referência dessa coligação. Essa estratégia de construir uma coligação mais ampla que o permita ganhar as eleições começa o Pacto de Maio", avaliou Marangoni.
Em 25 de maio de 1810, na emblemática praça de Maio, uma multidão reuniu-se para o primeiro grito de liberdade na Independência do país. Depois de 214 anos, um libertário quer construir um consenso em torno da liberdade económica dos argentinos.
Leia Também: "Triste para a Argentina" ausência de Milei na cimeira do Mercosul