Em declarações à agência Lusa, a presidente da Associação da Comunidade de Imigrantes Venezuelanos na Madeira -- VENECOM realçou que, por um lado, "as pessoas estão motivadas para votar", mas, por outro, muitas "sentem-se tristes e desapontadas" porque não constam dos cadernos eleitorais e não conseguem atualizar os dados.
"Isso não aconteceu só cá na Madeira, aconteceu no continente, em Espanha, nos Estados Unidos, foi uma situação geral. E isso deixou de fora uma quantidade, eu poderia dizer milhões de venezuelanos, que no dia de domingo não vão conseguir expressar a sua opinião através do voto", lamentou Ana Cristina Monteiro.
No seu caso, venezuelana filha de pais madeirenses a residir na região autónoma desde 2008, está apta a exercer o seu direito de voto, no domingo, no Consulado da Venezuela do Funchal.
Ana Cristina Monteiro, também deputada do CDS-PP no parlamento madeirense, acredita que é através do voto que é possível "ter uma mudança na Venezuela" e um "país melhor".
"O que eu pretendo é que o nosso país, a Venezuela, possa ser realmente um país livre, um país democrático, onde as pessoas possam exercer o seu direito de expressar, o seu direito de fazer oposição livre, o seu direito de sair e trabalhar em segurança, que os filhos possam ter uma educação de qualidade e é isso o que eu espero que nós consigamos fazer a breve termo", afirmou.
Ana Cristina Monteiro salientou que muitos venezuelanos e luso-descendentes atualmente na região, assim como também madeirenses ex-emigrantes na Venezuela que se viram forçados a regressar à ilha, "esperam uma mudança política para regressar ao país".
"Muitas pessoas deixaram as suas propriedades, o trabalho da vida toda", acrescentou.
É o caso do venezuelano Orlando Pereira de Agrela, filho de madeirenses, opositor do regime de Maduro, que está a viver na Madeira há cinco anos, mas sonha um dia regressar à Venezuela.
À Lusa contou que saiu do país por motivos económicos e políticos, deixando o filho e outros familiares, assim como as suas empresas e propriedades, sublinhando que a vitória da oposição seria "muito importante".
"Vamos ver a Venezuela evoluir como era nos anos 70 e 80, é muito importante para nós, a minha vida mudaria", frisou.
Orlando Agrela não está elegível para votar, mas perspetiva uma "participação massiva" nas eleições de domingo, nas quais dez candidatos competem pela Presidência, sendo favoritos o atual Presidente Nicolás Maduro Moros, que espera ser reeleito para um terceiro mandato de seis anos, e o embaixador Edmundo González Urrutia, o substituto da vencedora, em outubro de 2023, das primárias da oposição, Maria Corina Machado.
De acordo com a Associação da Comunidade de Imigrantes Venezuelanos na Madeira, residem atualmente na região cerca de 12.000 venezuelanos (incluindo menores de 18 anos), a maioria dos quais luso-descendentes, e estão aptos para votar no domingo cerca de 1.400.
Também Johana Figueira, a viver na Madeira há cinco anos, não vai votar, mas está confiante na mudança política, salientando o que "o povo está cansado" e anseia pelo fim da ditadura.
"O que me preocupa honestamente é logo depois dos resultados, das votações, o que vai acontecer. Se eles vão aceitar a derrota", disse, referindo-se a Nicolás Maduro e às "ameaças" que tem feito, através de um "discurso de medo".
Já Lídia Albornoz, madeirense e ex-emigrante na Venezuela, onde viveu 20 anos, antes de regressar à região em 1997, acha que é "muito difícil" que essa mudança se concretize.
"Nós queríamos muito que corresse tudo bem e começássemos a ver uma verdadeira democracia na Venezuela, mas nós sabemos que isso vai ser muito difícil, que Nicolás Maduro e esse regime ditatorial deixe o poder", considerou.
Apesar de não fazer parte dos que querem voltar a viver no país, anseia, pelo menos, regressar à Venezuela que conheceu e mostrá-la aos seus netos e outros familiares.
"Sabe o que é que eu gostava muito? Que os meus filhos e as minhas netas, agora que já sou avó, conseguissem ver o país que eu conheci", disse, emocionada.
Lídia Albornoz, que faz parte de associações de cariz social da região, realçou ainda que "há pessoas a chegar com problemas de saúde gravíssimos, cancros, crianças com autismo e outras doenças, e vêm à procura de um socorro, que no país deles não têm".
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