Ramaphosa, que é também presidente do partido Congresso Nacional Africano (ANC), no poder há 30 anos desde a queda do anterior regime de 'apartheid', destacou, no seu discurso, o elevado nível de violência de género na África do Sul.
"Cerca de 7% das mulheres foram alvo de violência física e violência sexual nos últimos 12 meses", afirmou o líder sul-africano.
"Sete por cento pode não parecer muito, mas equivale a 1,5 milhões de mulheres que são abusadas e violadas no nosso país", adiantou.
Ramaphosa citou um estudo realizado em 2022 pelo Conselho de Investigação em Ciências Humanas (HSRC, na sigla em inglês) sobre a prevalência da violência de género na África do Sul.
"São mulheres que sofreram traumas que nenhuma pessoa deveria experienciar", acrescentou o presidente sul-africano, acrescentando que "nenhuma mulher na África do Sul deveria ser sujeita a violência ou assédio sexual".
O chefe de Estado sul-africano discursava em afrikaans e inglês na província do Cabo do Norte, onde o ANC foi o partido mais votado com 49,3% nas eleições gerais de 29 de maio último, para assinalar o Dia Nacional da Mulher, num evento realizado sob o tema "Celebrando 30 Anos de Liberdade a caminho do Desenvolvimento da Mulher".
Segundo dados oficiais, a África do Sul é um dos países mais violentos do mundo com mais de 62 milhões de habitantes, estando cerca de metade no desemprego.
Ramaphosa, que foi forçado a criar um Governo de coligação com vários partidos da oposição após o ANC obter 40,18% dos votos nas últimas eleições gerais, continuando a sua queda eleitoral desde 2016, avançou também que 13% das mulheres na África do Sul são alvo de "enorme abuso económico" e "desigualdade", salientando "a enorme desigualdade de rendimento entre homens e mulheres".
Para Ramaphosa, o nível de violência contra as mulheres na África do Sul "é uma traição à Constituição".
"O nosso país está traumatizado profundamente com a violência que continua a ser perpetrada contra mulheres e crianças", afirmou.
"Esta violência é uma afronta à nossa humanidade comum", adiantou.
Na sua intervenção, o chefe de Estado sul-africano atribuiu ainda ao "colonialismo" e ao "apartheid" o elevado nível de pobreza existente no país, após trinta anos de governação do ANC, antigo movimento de libertação de Nelson Mandela.
"A África do Sul continua a ser um país altamente desigual, a pobreza ainda tem o rosto de uma mulher negra, e quando se quer compreender a pobreza na África do Sul basta olhar para o rosto de uma mulher negra", disse Ramaphosa perante uma audiência maioritariamente negra, militante do ANC, no evento transmitido pela televisão pública sul-africana.
"As mulheres negras têm maior probabilidade de estar desempregadas, de serem pobres e de não serem qualificadas, as normas e práticas culturais, muitas delas, produto do colonialismo e do apartheid, continuam a atrasar [o desenvolvimento] as nossas mulheres", referiu o presidente sul-africano.
Leia Também: Presidente sul-africano apela à "unidade" e à "cooperação"