"Hoje ao celebrarmos 25 anos de liberdade, de soberania e de reconciliação, recordamos os sacrifícios do nosso povo", afirmou num discurso proferido por ocasião de um jantar oferecido pelas autoridades timorenses ao secretário-geral da ONU, António Guterres, que se encontra no país para as celebrações de 30 de agosto.
O caminho foi "longo e árduo", disse o chefe de Estado timorense, mas com o apoio da comunidade internacional e das Nações Unidas Timor-Leste "conseguiu alcançar a paz, a estabilidade e o desenvolvimento".
"Felizmente, Timor-Leste permanece um oásis de paz, tolerância e segurança", disse o prémio Nobel da Paz, destacando o trabalho das forças de defesa e segurança pelo "profissionalismo", "respeito pelas instituições civis" e "pelos direitos humanos".
O Presidente timorense recordou o antigo chefe de Estado indonésio Bacharuddin Jusuf Habibie que "soube estar à altura dos desafios e oportunidades da história", após a resignação de Suharto devido à crise económica do sudeste asiático.
"B. J. Habibie soube conduzir, com muita coragem e serenidade, a nação Indonésia para a democracia e resolução do conflito de Timor-Leste", afirmou José Ramos-Horta.
"A Indonésia saiu de Timor-Leste porque assim o decidiu, honrando os compromissos assumidos com as Nações Unidas, que previam a sua retirada e substituição pelas forças internacionais, a quem foi confiada a garantia da segurança do território", sublinhou o prémio Nobel da Paz.
O chefe de Estado timorense destacou igualmente o trabalho da ONU no país através de nomes como Tamrat Samuel, que foi o ponto focal do secretário-geral das Nações Unidas para a questão de Timor-Leste entre 1992 e 2000, de Ian Martin, que liderou a missão que organizou o referendo, ambos presentes no jantar.
José Ramos-Horta recordou também o falecido diplomata Francesc Vendrell, funcionário das Nações Unidas que esteve envolvido nas negociações para a realização do referendo, e Sérgio Vieira de Mello, que liderou a administração de transição da ONU no país e foi morto num ataque terrorista no Iraque.
No jantar, que decorreu no Palácio Lahane, em Díli, as autoridades timorenses homenagearam também antigos funcionários da missão da ONU que organizou o referendo, bem como Brahim Gali, presidente da República Árabe Sarauí Democrática, que luta desde 1991 pela realização de um referendo pela autodeterminação.
A realização do referendo foi decidida entre Portugal e a Indonésia em 05 de maio de 1999, sob os auspícios da ONU, com a assinatura de três acordos, nomeadamente um sobre a questão de Timor-Leste, outro sobre a modalidade da consulta popular e um terceiro sobre segurança.
Em 30 de agosto de 1999, 344.580 das 446.666 pessoas registadas (433.576 em Timor-Leste e 13.090 nos centros no estrangeiro) escolheram a independência do país e consequentemente o fim da ocupação da Indonésia, que invadiu Timor-Leste em 07 de dezembro de 1975, apesar da violência perpetrada pelas milícias que apoiavam a integração.
Com o resultado do referendo, a Indonésia abandonou Timor-Leste, com as milícias pró-indonésias a deixarem um rasto de horror e violência, tendo entrado a autoridade de transição das Nações Unidas, que geriu o país até à restauração da independência, em 20 de maio de 2002.
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