"À sombra da escalada da violência em todo o Médio Oriente, os militares israelitas parecem estar a isolar completamente o norte de Gaza, ao mesmo tempo que realizam ataques com absoluto desrespeito pelas vidas e segurança dos civis palestinianos", denunciou o Gabinete do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, num comunicado.
A agência da ONU informou que foram recolhidos relatos que indicam que as forças israelitas levantaram "montes de areia em pontos-chave para selar de facto o norte de Gaza", acrescentando que as forças israelitas abriram fogo contra aqueles que tentaram fugir.
A ONU disse estar "consternada" com o elevado nível de violência e com os contínuos bombardeamentos de Israel, ao mesmo tempo que alertou que o Exército continuou com os seus ataques nas últimas horas pelo oitavo dia consecutivo.
O Alto Comissariado avisou ainda que os ataques às escolas que servem de refúgio aos deslocados em Jabalia, no norte da Faixa de Gaza, também se prolongaram.
"A retirada do norte de Gaza levanta ainda mais receios de que Israel não tenha intenção de permitir que os civis regressem às suas casas. E os repetidos apelos a todos os palestinianos para que abandonem o norte levantam receios sobre uma possível transferência forçada em grande escala", pode ler-se no comunicado.
A ONU recordou que "Israel, enquanto potência ocupante, tem a obrigação de garantir alimentos, água, cuidados médicos e outras necessidades básicas aos civis de Gaza".
"A recusa de entrada no norte de Gaza de bens suficientes e necessários para a sobrevivência da população civil e a recusa ou falha de Israel em fornecer estes produtos essenciais, especialmente depois de mais de um ano de impedimentos ilegais à assistência humanitária, irão inevitavelmente causar mais sofrimento e mortes desnecessárias", sublinha o documento.
É por isso que a ONU declarou que a "transferência forçada da população no norte de Gaza poderia constituir crimes de atrocidade, tal como disparar contra civis que fogem em resposta às ordens israelitas".
"Exigimos o fim imediato do cerco no norte de Gaza e dos repetidos bombardeamentos de abrigos para deslocados internos", conclui o comunicado.
Também hoje, uma coaligação de organizações não-governamentais (ONG) israelitas defensoras dos direitos humanos apelou à comunidade internacional que não seja "cúmplice" de Israel numa eventual expulsão da população palestiniana do norte da Faixa de Gaza.
Perante a renovada ofensiva do Exército israelita, as ONG Gisha, B'Tselem, PHR-I e Yesh Din - que também defendem um cessar-fogo imediato - instaram "a comunidade internacional a tomar medidas desde já para impedir que Israel transfira à força para fora da Faixa de Gaza centenas de milhares de palestinianos que permaneceram no norte dessa zona".
Além disso, as organizações pedem que não seja permitido a Israel alcançar o seu objetivo de expulsar a população de Gaza "negando a entrada de ajuda humanitária essencial e combustível".
A coaligação de ONG alerta ainda que "há sinais alarmantes de que o Exército israelita está a começar a aplicar silenciosamente o (denominado) Plano dos Generais, também conhecido como o Plano Eiland, que exige a transferência forçada e total dos civis do norte da Faixa de Gaza mediante o endurecimento do cerco na área e a fome entre a população".
O Hamas lançou em 07 de outubro de 2023, a partir de Gaza, um ataque surpresa contra o sul de Israel com o lançamento de milhares de foguetes e a incursão de milicianos armados, que causou a morte de mais de 1.140 pessoas em Israel, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em números oficiais israelitas.
Cerca de 240 pessoas foram raptadas e levadas para Gaza, segundo as autoridades israelitas. Destas, perto de cem foram libertadas no final de novembro, durante uma trégua em troca de prisioneiros palestinianos, e 132 reféns continuam detidos no território palestiniano, 28 dos quais terão morrido.
Em resposta ao ataque, Israel declarou guerra ao Hamas, movimento que controla a Faixa de Gaza desde 2007 e que é classificado como terrorista pela União Europeia e Estados Unidos, bombardeando várias infraestruturas do grupo na Faixa de Gaza e impôs um cerco total ao território com corte de abastecimento de água, combustível e eletricidade.
[Notícia atualizada às 19h52]
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