Washington Post em controvérsia após não apoiar Harris. Entenda

O jornal norte-americano Washington Post está a atravessar um período de turbulência interna devido à decisão do seu proprietário, o multimilionário Jeff Bezos, de não apoiar a candidatura presidencial da democrata Kamala Harris.

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© Danielle Villasana for The Washington Post via Getty Images

Lusa
28/10/2024 18:59 ‧ 28/10/2024 por Lusa

Mundo

Eleições EUA

Nos Estados Unidos, existe a tradição de os meios de comunicação social apoiarem explicitamente um candidato presidencial.

 

No entanto, o chefe de redação do Post, William Lewis, anunciou na sexta-feira que o jornal decidiu manter-se imparcial e não apoiar nem Harris nem o seu rival republicano, o antigo presidente Donald Trump, o que levou a duas demissões e a apelos ao cancelamento das assinaturas do jornal.

Dois jornalistas revelaram, num artigo publicado no mesmo jornal, que o conselho editorial do Post já tinha redigido o seu artigo de apoio à candidata democrata, mas foi Jeff Bezos quem ordenou que a publicação do artigo fosse interrompida.

É a primeira vez em décadas que o jornal da capital norte-americana não apoia o candidato presidencial democrata.

O jornal, que tem tido uma linha editorial muito dura com Trump, apoiou Hillary Clinton em 2016 e Joe Biden em 2020, ambos adversários do magnata republicano.

William Lewis, no cargo desde janeiro passado, negou que Bezos, fundador da Amazon e proprietário do Post desde 2013, tivesse influência na nova postura do jornal.

Segundo Lewis, o objetivo do jornal é transmitir uma imagem de maior independência e regressar às suas origens, quando o Post não apoiava candidatos.

O primeiro candidato presidencial a ser apoiado pelo Post foi o democrata Jimmy Carter, em 1976, na sequência do escândalo Watergate revelado pelo jornal.

Desde então, o jornal tem apoiado regularmente os candidatos às presidenciais norte-americanas, com exceção da campanha de 1988.

Durante anos, o Post investigou irregularidades e controvérsias que envolviam Trump e a sua comitiva, e criticou fortemente a retórica do republicano e a sua recusa em aceitar a derrota eleitoral em 2020.

Durante o mandato de Trump, a Amazon perdeu um contrato multimilionário com o Pentágono e processou Trump por ter usado "pressão indevida" para prejudicar Bezos.

Os críticos da decisão do jornal acreditam que o multimilionário pretende evitar confrontos com um possível segundo mandato de Trump.

O primeiro membro do Post a demitir-se devido à decisão foi o editor Robert Kagan, que classificou a mudança de posição como uma "capitulação prematura" a Trump.

A colunista Michele Norris também anunciou a sua demissão, considerando a mudança um "erro terrível" e um "insulto aos padrões do jornal".

Dezoito outros colunistas assinaram uma coluna manifestando o seu desacordo com o anúncio que "representa um abandono das convicções do jornal".

O prestigiado jornalista Marty Baron, que dirigia o Post quando Trump estava na Casa Branca, também reagiu com indignação, dizendo que se tratava de "um ato de cobardia cuja vítima será a democracia".

"Donald Trump verá isto como um convite para intimidar ainda mais o proprietário, Jeff Bezos, e outros. A falta de caráter de uma instituição famosa pela sua coragem é preocupante", afirmou.

A insatisfação chegou também aos leitores, alguns dos quais cancelaram as suas assinaturas.

A jornalista Caroline Kitchener revelou que a sua mãe, tal como muitos outros assinantes, decidiu cancelar a assinatura do jornal, uma medida que a jornalista compreende mas que lhe pediu para reconsiderar.

"Nós, repórteres do Post, não participámos nesta decisão, mas quando se cancela a assinatura, está-se a prejudicar a nós, não ao proprietário", disse.

Na mesma linha, David Maraniss, um editor experiente do jornal, disse que a última sexta-feira foi o "dia mais negro" da sua carreira.

Uma polémica semelhante atingiu o Los Angeles Times, onde a chefe do conselho editorial, Mariel Garza, se demitiu em protesto após o proprietário do jornal, Patrick Soon-Shiong, ter bloqueado o apoio do jornal a Harris.

Leia Também: Harris desafia Trump a fazer um teste cognitivo após provocação

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