Em declarações aos jornalistas, Geir Pedersen disse ainda esperar uma "solução política" no nordeste da Síria, relativamente às zonas curdas autónomas, que constituem um dos "maiores desafios" para o novo governo no poder após a queda do regime do Presidente Bashar al-Assad.
Uma coligação de grupos armados liderada pelos islamitas do Hayat Tahrir al-Sham (HTS) tomou o poder na Síria a 08 deste mês, derrubando o regime do Presidente Bashar al-Assad, que governou o país sem contestação desde 2000, após suceder ao regime do pai, Hafez al-Assad, que chegou ao poder na sequênia de um golpe de Estado em 1971.
"Penso que é importante dizer que há muita esperança, que hoje estamos a assistir ao início de uma nova Síria, [...] que aprovará uma nova Constituição que garanta um novo contrato social para todos os sírios e que organizará eleições justas e livres após o período de transição", disse o representante da ONU.
O primeiro-ministro responsável pela transição até 01 de março, Mohammad al-Bashir, prometeu "garantir os direitos de todos".
"Há estabilidade em Damasco, mas os desafios persistem noutras áreas", avisou.
Pedersen afirmou esperar uma "solução política" no nordeste da Síria no que se refere às zonas autónomas curdas, que constituem "um dos maiores desafios" para o novo governo no poder.
Por último, o enviado especial da ONU reafirmou a necessidade de uma "ajuda humanitária imediata" e espera uma "recuperação económica" no país sob sanções internacionais.
A Síria tem sido palco de uma guerra devastadora, desencadeada em 2011 pela repressão de manifestações pró-democracia. O conflito provocou a morte de mais de meio milhão de pessoas e deixou milhões de deslocados e refugiados.
Terça-feira à noite, num comunicado, o Conselho de Segurança da ONU apelou para que o processo político na Síria seja inclusivo e "liderado pelos sírios", quase dez dias após a queda do regime de al-Assad.
Os membros do Conselho, incluindo a Rússia, apoiante histórico de al-Assad, e os Estados Unidos, "sublinharam igualmente a necessidade de a Síria e dos vizinhos se absterem de qualquer ação ou interferência que possa prejudicar a segurança uns dos outros", indica o comunicado.
"Reafirmaram igualmente forte empenho na soberania, independência, unidade e integridade territorial da Síria e apelaram a todos os Estados para que respeitem estes princípios", acrescentou.
As novas autoridades, dominadas por islamistas radicais que depuseram al-Assad do poder a 08 deste mês, tentam agora tranquilizar a população quanto à capacidade de pacificar e reunificar o país, dividido e devastado por 13 anos de guerra civil.
"Este processo político deve ir ao encontro das aspirações legítimas de todos os sírios, protegê-los a todos e permitir-lhes determinar o próprio futuro de forma pacífica, independente e democrática", afirmou o Conselho de Segurança da ONU.
O "conflito ainda não terminou" na Síria, alertou terça-feira Pedersen, referindo-se aos confrontos no norte do país entre as forças pró-curdas e os grupos de protesto curdos.
Pedersen criticou também os "mais de 350 ataques" efetuados por Israel a instalações militares no país desde 08 de dezembro e apelou a Telavive para que "cesse todas as atividades de colonização nos montes Golã sírios ocupados, o que é ilegal".
Desde o início da guerra civil síria, em 2011, o Conselho tem estado paralisado em relação à questão síria, com a Rússia a utilizar regularmente o direito de veto para proteger o regime de Bashar al-Assad, até à queda.
Moscovo ainda tem bases militares em território sírio e o futuro ainda está por decidir, anunciou o Kremlin na segunda-feira.
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