Salman Rushdie testemunhou hoje no tribunal de Mayville, no condado de Chautauqua, na segunda sessão do julgamento de Hadi Matar, um libanês-americano de 27 anos, que está acusado de agressão e tentativa de homicídio do escritor britânico.
Na sessão em tribunal, Rushdie detalhou o momento do ataque, dizendo que só se apercebeu da presença do agressor, todo vestido de preto e com uma máscara na cara, momentos antes, e que se recorda dos olhos dele, negros e "muito ferozes".
Na altura, o escritor pensou que tinha sido apenas agredido, até ter visto "uma grande quantidade de sangue" a surgir nas roupas, segundo o testemunho citado pela agência noticiosa Associated Press.
"Ele estava repetidamente a bater-me. A bater-me e a esfaquear-me", descreveu Salman Rushdie, recordando que, no momento, já caído no chão, só pensava que estava a morrer.
Salman Rushdie perdeu o olho direito e sofreu danos permanentes nos nervos da mão, decorrentes deste esfaqueamento.
Em 2024 lançou o livro de memórias 'Faca - Meditações na sequência de uma tentativa de homicídio', no qual recorda os acontecimentos daquele ataque e o longo processo de recuperação.
"A primeira coisa que disse depois de ter recuperado a capacidade de falar foi: 'Posso falar'", afirmou Rushdie na sessão de hoje, na qual esteve pela primeira vez na presença de Hadi Matar, desde o dia do ataque.
De acordo com a Associated Press, o julgamento deverá demorar pelo menos duas semanas.
Hadi Matar, que se declarou culpado dos crimes de tentativa de homicídio e agressão, entrou hoje em tribunal gritando 'A Palestina será livre', tal como fez na segunda-feira, no arranque do julgamento.
Nascido em Bombaim, em 1947, Salman Rushdie é autor de romances, contos para a juventude e ensaios, e recebeu em 1981 o Prémio Booker pelo livro 'Os filhos da Meia-Noite'.
O escritor incendiou parte do mundo muçulmano com a publicação da obra 'Versículos Satânicos', em 1988, que levou o fundador da República Islâmica, o aiatola Ruhollah Khomeini, a emitir uma 'fatwa' a ordenar a sua morte.
Depois disso, passou anos escondido e com proteção policial, mas regressou gradualmente à vida pública depois de, em 1998, o governo iraniano se ter distanciado da ordem, afirmando que não apoiaria alguma tentativa de o matar, embora a 'fatwa' nunca tenha sido oficialmente revogada.
O seu romance mais recente, 'Cidade da Vitória', concluído um mês antes do atentado, foi lançado em 2023 e também está publicado em Portugal.
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