O estudo, realizado pelo European Council on Foreign Relations (ECFR), conclui que a maioria dos cidadãos da União Europeia (UE) considera agora os Estados Unidos como um "parceiro necessário" e não mais um aliado preferencial como acontecia anteriormente.
O estudo do ECFR mostra que a Europa está a atravessar um momento de incerteza face ao regresso de Trump à presidência dos EUA.
A tradicional relação atlanticista está a enfraquecer, substituída por uma abordagem mais pragmática, mas, sobretudo, cautelosa.
O estudo - que abrangeu 14 países, incluindo Portugal - revela que 50% dos europeus partilham uma visão pragmática, embora desconfiada, sobre os EUA, enquanto apenas 21% ainda consideram Washington um aliado.
Portugal reflete esse sentimento, mantendo uma postura crítica, mas não hostil, face ao novo Governo norte-americano e não desalinha das conclusões gerais do estudo, com a maioria dos inquiridos nacionais a revelar um olhar crítico, embora também pragmático.
Em Portugal, 55% dos inquiridos consideram os EUA um "parceiro necessário", enquanto apenas 18% os consideram um "aliado", o que sugere um realinhamento das posições relativamente a um passado recente.
O sentimento de distanciamento em relação aos EUA pode estar relacionado com a abordagem unilateralista e protecionista de Trump, que tem sido marcada por uma desvalorização da diplomacia multilateral e pelo reforço da política 'America First'.
Os autores do estudo - Jana Puglierin, Arturo Varvelli e Pawel Zerka - sugerem que os líderes europeus devem adotar uma posição mais pragmática e estar preparados para negociar com Washington em termos mais transacionais.
Isto significa um afastamento de uma relação baseada em valores partilhados e uma aproximação focada em interesses específicos.
A divisão entre os estados-membros da UE sobre como lidar com os EUA também se reflete na forma como os países encaram a relação com a China.
Enquanto na Alemanha e na Dinamarca a China é vista como um rival ou adversário, em Portugal, 45% dos inquiridos consideram Pequim um parceiro necessário -- uma divergência que pode dificultar a formação de uma estratégia comum europeia.
Outro ponto relevante do estudo é a posição dos europeus sobre o conflito na Ucrânia.
A maioria dos inquiridos acredita que a guerra terminará com uma solução negociada, em vez de uma vitória total de um dos lados.
Em Portugal, 37% dos cidadãos defendem que a Europa deve continuar a apoiar Kyiv até recuperar os territórios ocupados pela Rússia, enquanto outros acreditam que a prioridade deve ser pressionar pela paz.
Portugal está entre os países que ainda defendem fortemente a continuidade do apoio europeu a Kyiv, alinhando-se com países como a Alemanha e a Polónia.
A incerteza sobre o futuro da Ucrânia também revela divisões dentro da UE: enquanto França e Itália mostram dificuldades em reconhecer a Ucrânia como parte da Europa, países como Polónia e Estónia continuam firmes no apoio a Kyiv.
Bulgária e Hungria são os únicos dois países do estudo onde a maioria considera que a Ucrânia tem tanta responsabilidade quanto a Rússia pelo prolongamento da guerra.
O estudo também destaca que o apoio a Donald Trump é mais expressivo entre eleitores da extrema-direita europeia.
Em países como a Hungria e a Bulgária, a maioria dos entrevistados considera a reeleição de Trump positiva para os EUA e para o mundo e, em contraste, na Dinamarca, Reino Unido e Alemanha, mais de metade dos inquiridos consideram a sua presidência como negativa.
Em Portugal, a opinião sobre Trump é mais equilibrada, refletindo um cenário político menos polarizado em relação ao impacto da administração norte-americana.
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