A presença dos militares ugandeses resultou de uma reunião realizada na segunda-feira entre responsáveis do Uganda e da RDCongo em Bunia, capital da província de Ituri, detalhou o major-general Felix Kulayigye, porta-voz militar ugandês.
Efetivos ugandeses controlam agora Bunia juntamente com as forças democrático-congolesas, salientou o porta-voz, acrescentando que a ação foi provocada por crimes, incluindo assassínios, segundo uma base étnica por grupos armados.
O porta-voz militar ugandês não deu mais pormenores, mas Bunia e outras áreas próximas são há muito palco de conflitos violentos entre a comunidade agrícola Lendu e os pastores Hema.
O comandante militar ugandês, general Muhoozi Kainerugaba, ameaçou na semana passada capturar Bunia devido a alegações de que os Hema estavam a ser atacados.
Bunia situa-se a cerca de 40 quilómetros da fronteira da RDCongo com o Uganda.
As forças ugandesas estão destacadas na província de Ituri desde 2021 ao abrigo de um acordo com o Governo de Kinshasa.
Os militares ugandeses combatem os membros de outros grupos rebeldes que incluem as Forças Democráticas Aliadas (ADF, na sigla em inglês), que têm ligações com o grupo extremista Estado Islâmico, tendo sido registados confrontos entre as tropas ugandesas e as ADF em zonas montanhosas remotas de Ituri e em partes da província vizinha de Kivu do Norte, onde a rebelião M23, apoiada pelo Ruanda, reemergiu em 2021.
Existe o receio de que a escalada da presença militar do Uganda no leste da RDCongo possa aumentar os receios de um conflito crescente na região, com o risco de outras forças beligerantes se poderem envolver.
Analistas que acompanham a situação na região receiam uma repetição do conflito dos anos 1990, em que o então líder da RDCongo, Laurent-Desire Kabila, convidou militares de países como Angola e Zimbabué para combater os rebeldes apoiados pelo Uganda e pelo Ruanda.
O envolvimento militar do Ruanda e do Uganda no leste da RDCongo poderia provocar a entrada de outras forças beligerantes, disse Angelo Izama, um analista do grupo de reflexão Fanaka Kwawote, sedeado no Uganda.
"Este é o primeiro tiro na escalada regional que se previa", disse, acrescentando: "O padrão que está a ser reencenado é o dos interesses do Uganda e do Ruanda na RDCongo".
O Uganda e o Ruanda entraram no conflito no leste da RDCongo em 1996, competindo por vezes pela influência dos grupos rebeldes que se opõem ao Governo de Kinshasa.
Os países vizinhos da RDCongo também têm sido acusados de explorar ilegalmente a vasta riqueza mineral do país, incluindo ouro e coltan.
Enfrentando a pressão do M23, o Presidente democrático-congolês, Felix Tshisekedi, procurou recentemente a ajuda de aliados para proteger a integridade territorial do seu país, que tem uma dimensão equivalente à da Europa Ocidental.
Tropas do Burundi, que tem relações tensas com o Ruanda, foram enviadas para combater ao lado das forças democrático-congolesas e acresce que na região se encontram tropas da Tanzânia e da África do Sul, ao abrigo da missão militar da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC, na sigla em inglês).
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