Descendente do partido comunista SED, que governou a antiga RDA, o Die Linke chegou a obter 11,9% dos votos em eleições legislativas, em 2009, mas desde então foi perdendo protagonismo e muitos vaticinavam o seu desaparecimento quando, em finais de 2023, aquela que era a sua maior "estrela" política abandonou o partido para formar o seu próprio, que batizou com o seu nome, a Aliança Sahra Wagenknecht (BSW), levando consigo muitos dissidentes.
No entanto, A Esquerda encontrou uma nova "estrela", Heidi Reichinnek, 36 anos e co-líder parlamentar do partido, juntamente com Sören Pellmann, que se tornou um fenómeno nas redes sociais, sobretudo pelas suas intervenções apaixonadas contra a extrema-direita e contra o provável futuro chanceler alemão, o líder da CDU (União Democrata-Cristã), Friedrich Merz, particularmente depois deste ter votado recentemente ao lado do partido de extrema-direita AfD (Alternativa para a Alemanha) em matéria de imigração, rompendo o chamado "cordão sanitário" em vigor no país desde o fim da II Guerra Mundial.
"Resistir ao fascismo neste país. Para as barricadas!", é um de muitos exemplos das mensagens fortes de Reichinnek, partilhadas e vistas por milhões nas redes sociais, onde A Esquerda decidiu investir, para tentar contrariar a força da extrema-direita nestas plataformas com "conteúdos de esquerda credíveis e bem feitos".
As mensagens do Die Linke e a popularidade conquistada por Reichinnkek parecem ter tido impacto sobretudo junto dos eleitores jovens que estão apreensivos com a subida da extrema-direita, e um estudo realizado pelo Conselho Nacional de Jovens da Alemanha (DBJR) -- uma rede lobista que pretende defender os interesses das crianças e jovens a nível das políticas federais -, e divulgado na segunda-feira, apresentou um resultado surpreendente, com A Esquerda a surgir como a primeira força política na intenção de voto dos menores de 18 anos.
De acordo com a "eleição para menores de 18 anos" promovida pelo DBJR, o Die Linke é o claro vencedor, com 20,84% das preferências dos jovens, que se mostram satisfeitos com as posições deste partido em defesa de habitação a preços acessíveis, de aumento dos impostos sobre os ricos e de impor aos maiores poluidores do mundo o fardo financeiro do combate às alterações climáticas.
Embora nas eleições do próximo domingo, A Esquerda não possa ainda contar com os votos destes sub-18, as derradeiras sondagens são bastante animadoras para o partido, que lhe conferem entre 6% a 9% das intenções de voto, quando no mês passado lhe vaticinavam um resultado em torno dos 4%, abaixo do limiar (de 5%) para entrar no Bundestag, a câmara baixa do parlamento alemão.
Curiosamente, A Esquerda surge agora à frente nas intenções de voto do BSW da 'dissidente' Sahra Wagenknecht, a sua antiga "estrela", cujas posições populistas em matéria de imigração, sobretudo desde a crise de refugiados de 2015 -- que lhe valeram o rótulo de "conservadora de esquerda" -- e uma alegada simpatia pelo Presidente russo, Vladimir Putin, têm suscitado críticas e dúvidas no eleitorado mais à esquerda.
O Die Linke foi perdendo força e união nos últimos anos, mas agora parece estar a recuperar, apresentando-se no domingo nas urnas com a motivação de contar atualmente com um número recorde de membros inscritos, mais de 80 mil, sendo que perto de 18 mil inscreveram-se nas últimas semanas.
A Alemanha realiza no domingo eleições legislativas antecipadas - estavam previstas para 28 de setembro -, na sequência da queda da coligação governamental liderada por Olaf Scholz e composta pelo SPD (social-democrata), pelos liberais do FDP e pelos Verdes.
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