Os Estados Unidos confirmaram, esta quarta-feira, que estão a fazer negociações diretas com o Hamas sobre os reféns que ainda estão na Faixa de Gaza, confirmou a Casa Branca, citada pela BBC.
"O Presidente [dos Estados Unidos, Donald Trump] acredita no diálogo e nas conversas com as pessoas de todo o mundo para fazer o que é melhor para o povo norte-americano ", observou a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt.
A porta-voz informou que o enviado especial norte-americano para assuntos dos reféns, Adam Boehler, "está envolvido nestas negociações" e que, nessa medida, "tem autoridade para falar com qualquer pessoa", indicando ainda que a parte israelita foi consultada.
Até agora, Washington tinha evitado um contacto direto com o Hamas, uma vez que os Estados Unidos têm uma política de longa data contra o contacto direto com grupos que considera serem organizações terroristas.
Antes desta confirmação dos Estados Unidos também o Hamas tinha revelado, esta quarta-feira, citado pelo jornal israelita Haaretz, que tem mantido conversações diretas com a administração de Donald Trump sobre a libertação de reféns, adiantando que essas mesmas negociações tiveram início há várias semanas.
Bassem Naim, alto dirigente do grupo armado palestiniano, atestou à agência EFE que manteve conversações diretas com Washington, as primeiras entre as duas partes desde o começo da guerra, em 07 de outubro de 2023.
A confirmação surge depois de o grupo palestiniano ter rejeitado no sábado a proposta dos Estados Unidos, um dos três países mediadores nas negociações, de prolongar a primeira fase do acordo até ao final do Ramadão em troca da libertação dos restantes reféns.
Israel confirmou igualmente que ter recebido informações do diálogo de Washington com o Hamas.
"Em consultas com os Estados Unidos, Israel expressou a sua opinião sobre discussões diretas com o Hamas", esclareceu o gabinete do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, numa breve declaração, depois da confirmação da Casa Branca.
A notícia das negociações foi avançada, pela primeira vez, pelo jornal digital norte-americano Axios, que anunciou que os dois lados estavam a discutir a libertação dos reféns norte-americanos, bem como um acordo mais amplo para acabar com a guerra.
Israel prometeu destruir o Hamas e lançou uma ofensiva devastadora na Faixa de Gaza, após o ataque de violência e escala sem precedentes realizado em 07 de outubro de 2023 por combatentes do grupo islamita palestiniano, que se introduziram no sul do território israelita, onde fizeram mais de 1.200 mortos e 250 reféns.
A operação de retaliação israelita no enclave palestiniano provocou por sua vez acima de 48 mil mortos, na maioria civis, segundo as autoridades locais controladas pelo Hamas, e mergulhou o território numa grave crise humanitária.
Após 15 meses de guerra que destruiu grande parte da Faixa de Gaza, Israel e Hamas chegaram a um acordo de cessar-fogo, com a mediação de Qatar, Egito e Estados Unidos, cuja primeira fase entrou em vigor em 19 de janeiro e terminou no sábado.
Durante a primeira fase, o Hamas entregou 33 reféns e Israel libertou cerca de 1.800 palestinianos das suas cadeias.
Israel também permitiu o reforço da ajuda humanitária na Faixa de Gaza antes de a bloquear no domingo, alegando que estava a beneficiar o Hamas.
As autoridades israelitas exigem a "desmilitarização total" da Faixa de Gaza, a saída do Hamas do território e a recuperação dos últimos reféns antes de passar à segunda fase.
O Hamas recusa-se a aceitar a próxima etapa, que deveria conduzir a um cessar-fogo permanente, e insiste em permanecer na Faixa de Gaza, onde assumiu o poder em 2007. Uma terceira fase deverá ser dedicada à reconstrução do enclave.
[Notícia atualizada às 20h35]
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