A embarcação naufragou na terça-feira, durante as operações de resgate de pessoas sitiadas no bairro Sangane, parte continental da Ilha de Moçambique, na sequência da subida do caudal do rio Monapo, causada pelo ciclone Jude.
"Logo após a ocorrência, houve ajuda das outras embarcações que estavam no local e foram resgatadas, no total, 24 pessoas com vida, com exceção de uma criança que desapareceu, tendo sido encontrada já sem vida na quarta-feira", declarou à Lusa Silvério Nauaito, administrador da Ilha de Moçambique.
Segundo o responsável, tratava-se da sexta viagem da embarcação, que estava a ser usada para o resgate de 742 pessoas sitiadas em Sangane, algumas em árvores e no telhado da unidade de saúde local.
"Nós caímos em desespero e tivemos de organizar operações de resgate envolvendo dois barcos, um dos quais, na sexta leva, acabou sendo arrastado pela força das correntes", disse o administrador, referindo que foram resgatadas pelo menos 59 famílias sitiadas".
O ciclone tropical Jude entrou em Moçambique, na madrugada de segunda-feira, através do distrito de Mossuril, em Nampula, com ventos de 140 quilómetros por hora e rajadas até 195 quilómetros por hora, disse à Lusa Manuel Francisco, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inam) de Moçambique.
As autoridades moçambicanas elevaram hoje para nove o número de mortos na passagem do ciclone Jude, mantendo-se em 20 o número de feridos, indica-se num boletim do instituto de gestão de desastres.
O número de pessoas afetadas subiu para 100.410 e o de famílias para 19.961, dados que agora incluem também as províncias centrais de Tete e Manica, além de Zambézia, Nampula, Niassa e Cabo Delgado, as três últimas do norte de Moçambique.
O Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD) aponta ainda, em dados até quarta-feira, 20.244 casas total e parcialmente destruídas, 28 unidades de saúde, 22 casas de culto e um edifício público afetados.
Um total 59 escolas, 182 salas de aulas, 17.401 alunos e 264 professores estão também entre os afetados pelo Jude, havendo ainda seis pontes, um aqueduto e 1.262 áreas agrícolas fustigadas pela intempérie.
Moçambique está em plena época chuvosa, que decorre entre outubro e abril, período em que foram já registados os ciclones Chido e Dikeledi, que afetaram igualmente o norte do país.
Os ciclones atingiram Moçambique entre dezembro do ano passado e janeiro último, com maior impacto nas províncias de Cabo Delgado e Nampula, tendo afetado cerca de 736.000 pessoas e causado a destruição de infraestruturas públicas e privadas.
Eventos extremos, como ciclones e tempestades, provocaram pelo menos 1.016 mortos em Moçambique entre 2019 e 2023, afetando cerca de 4,9 milhões de pessoas, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).
O país africano é considerado um dos mais severamente afetados pelas alterações climáticas globais, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, mas também períodos prolongados de seca severa.
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