"Se o Governo do 7 de outubro decidir não obedecer à decisão do tribunal, tornar-se-á nesse dia um Governo fora-da-lei", declarou o líder da oposição israelita, Yair Lapid, perante vários milhares de manifestantes em Telavive.
"Se isso acontecer, o país inteiro deve parar", defendeu, sublinhando que "o único sistema que não deve parar é o sistema de segurança" interna de Israel (o Shin Bet).
Segundo Lapid, "a economia deve entrar em greve, o parlamento deve entrar em greve, os tribunais devem entrar em greve, as autoridades devem entrar em greve, e não apenas as universidades, mas também as escolas".
O líder da oposição israelita discursava numa manifestação contra o Governo em frente ao Teatro Nacional, no centro de Telavive.
Num sinal de descontentamento convergente, manifestantes brandiam cartazes em que se lia "Basta de sangue derramado", "Quanto mais sangue terá ainda de ser derramado?" e "Fim à guerra, Agora!", para assegurar o regresso dos cerca de 60 reféns ainda mantidos em cativeiro pelo movimento islamita palestiniano Hamas na Faixa de Gaza, no meio de uma nuvem de bandeiras israelitas.
O Supremo Tribunal de Israel suspendeu na sexta-feira a decisão sem precedentes do Governo de demitir o chefe do Shin Bet, Ronen Bar, cujo despedimento reacendeu profundas divisões na sociedade.
A máxima instância judicial israelita tenciona analisar, até 08 de abril, cinco recursos contra a decisão anunciada pelo executivo.
Mas Netanyahu insistiu hoje à noite: "Ronen Bar não continuará à frente do Shin Bet, não haverá guerra civil e Israel continuará a ser um Estado democrático", afirmou numa mensagem de vídeo, desafiando o Supremo Tribunal.
Um dos recursos foi apresentado pelo partido Yesh Atid, de Yair Lapid, que condenou uma "decisão tomada devido a um flagrante conflito de interesses do primeiro-ministro".
O recurso destaca os dois fatores que, segundo os requerentes, levaram Netanyahu a demitir Bar: o caso batizado como "Qatargate" pela comunicação social, em que pessoas próximas do primeiro-ministro são suspeitas de terem recebido subornos do Qatar, e o envolvimento do executivo no fiasco de segurança que permitiu que o dia 07 de outubro de 2023 se tornasse o mais mortífero da história de Israel, devido ao ataque de dimensões sem precedentes do Hamas, que matou cerca de 1.200 pessoas, na maioria civis, e sequestrou mais 251.
Parte dos israelitas condena o que considera serem os excessos autocráticos do primeiro-ministro, que convocou para domingo uma reunião do seu Governo para iniciar o processo de destituição da Procuradora-Geral do país, Gali Baharav-Miara.
Esta, que desempenha também o papel de conselheira jurídica do Governo, advertiu Netanyahu de que a decisão do Supremo Tribunal o "proíbe" temporariamente de nomear um novo chefe para o Shin Bet.
Uma manifestação contra a destituição da Procuradora-Geral está prevista para domingo em frente ao Knesset, o parlamento israelita, e junto à residência privada do primeiro-ministro, em Jerusalém.
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