PAM alerta para "um dos piores níveis de insegurança alimentar" no Sudão do Sul

O Programa Alimentar Mundial (PAM) alertou hoje que quase 7,7 milhões de pessoas enfrentam níveis de crise, emergência ou fome catastrófica no Sudão do Sul, num "dos piores níveis de insegurança alimentar" já registados no país.  

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Lusa
09/04/2025 23:42 ‧ há 5 dias por Lusa

Mundo

Sudão do Sul

Num 'briefing' à imprensa a partir de Juba, a diretora do PAM no Sudão do Sul, Mary-Ellen McGroarty, traçou um cenário sombrio sobre a situação no país africano, onde mais de metade da população está severamente afetada pela fome, numa situação humanitária muito difícil e exacerbada pela violência e pelo conflito, e pelas divisões políticas e de segurança. 

 

"O conflito e a violência estão a expulsar as pessoas e as comunidades das suas casas em algumas das áreas mais difíceis, vulneráveis e com maior insegurança alimentar do Sudão do Sul. E isso está a acontecer numa altura em que estamos a entrar na época anual de escassez. É uma época do ano em que a fome atinge o seu pico", explicou. 

"Estamos seriamente num ponto crítico", frisou a diretora da agência das Nações Unidas, insistindo: "Este é um dos piores níveis de insegurança alimentar que já vimos no país". 

Há uma grande percentagem de famílias nas zonas de conflito que não conseguem garantir uma refeição por dia, lamentou Mary-Ellen McGroarty, observando que o mundo está a assistir ao impacto devastador que o conflito tem no aumento da fome. 

Os combates no grande Alto Nilo, por exemplo, já obrigaram aproximadamente 100.000 pessoas a fugir das suas casas. 

Com o intensificar do conflito, o PAM teve de interromper as suas operações. 

"Não conseguimos chegar a mais de 213.000 pessoas por causa do conflito em seis condados", afirmou. 

Descrevendo a situação no terreno aos jornalistas, McGroarty explicou que as regiões mais afetadas são também das áreas mais remotas do país, onde o acesso físico pode ser desafiante "mesmo nos melhores momentos". 

Com os conflitos ativos, o PAM não tem conseguido movimentar-se pelo rio. 

"São zonas onde não há estradas, nem carros, nem camiões. E quando trazemos comida, precisamos de a trazer pelo rio ou pelo ar. Quando as equipas e os parceiros saem para trabalhar nesta área, ficam lá durante dias", contou. 

A representante do PAM relatou ainda que mais de 100 toneladas métricas de alimentos, principalmente produtos nutricionais, foram saqueadas no meio do conflito. 

"São recursos que não podemos repor e (...) eram destinados a crianças numa parte do país onde mais de 17% estão subnutridas", assinalou. 

Face a essas dificuldades, o PAM viu-se obrigado a "priorizar dentro das prioridades" os seus atendimentos, de forma a atingir os casos mais extremos, particularmente aqueles que enfrentam níveis de emergência e níveis catastróficos de insegurança alimentar. 

A somar a tudo isto, o Sudão do Sul - rico em petróleo, mas extremamente pobre - também sofre com as alterações climáticas, sejam inundações ou secas, e com um surto de cólera, que está a representar "outra ameaça mortal". 

"Neste momento, o Sudão do Sul não está em condições de resistir a outra guerra. (...) O povo do Sudão do Sul merece a liberdade da prisão do conflito e da fome. E merecem a nossa atenção e apoio", concluiu. 

O Sudão do Sul, que se tornou independente do Sudão em 2011, sofreu uma guerra de cinco anos que matou cerca de 400 mil pessoas e terminou com um acordo de paz em 2018, um pacto que serviu para partilhar o poder entre o Governo e a oposição, mas cujas principais disposições nunca foram implementadas. 

A instabilidade no país começou a aumentar com confrontos violentos em 04 de março, quando uma milícia rebelde, o Exército Branco, tomou uma guarnição do exército na cidade de Nasir, no norte do Sudão do Sul, e raptou soldados, incluindo um comandante superior, o que desencadeou várias detenções em Juba contra apoiantes da oposição liderada por vice-Presidente sul-sudanês. 

A situação no terreno é agravada pelo facto de o país também abrigar mais de um milhão de deslocados do vizinho Sudão, que vive a sua própria guerra. 

Leia Também: Sudão do Sul com 871 mortes por cólera desde outubro

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