A presidente do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV), Mirjana Spoljaric, disse, numa declaração feita hoje para assinalar dois anos de conflito, que o mundo assistiu a uma "terrível tendência para a desumanização pela forma como esta guerra está a ser conduzida".
Os civis estão a ser mortos e feridos enquanto as suas casas estão a ser roubadas e os seus meios de subsistência destruídos, afirmou Spoljaric.
Os trabalhadores humanitários também são visados no exercício das suas funções e há "ataques intencionais a infraestruturas civis, como hospitais, reservatórios de água e centrais elétricas", acrescentou.
Na sua opinião, estes dois anos de guerra civil "ruinosa" foram "gravados nas vidas de milhões de sudaneses" e o conflito, que se espalhou por todo o país, "prendeu a população num pesadelo de morte e destruição".
Para si, os dados infligidos aos civis sudaneses "nunca devem ser considerados uma consequência inevitável da guerra" e "muito do sofrimento poderia ter sido poupado se as partes em conflito respeitassem as leis da guerra".
A diplomata exortou as partes em conflito - as Forças Armadas Sudanesas e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido - a avançar para um cessar-fogo ou, pelo menos, a respeitar os compromissos assumidos em Jeddah, na Arábia Saudita, em 2023, incluindo o respeito pelo trabalho humanitário.
Segundo dados das Nações Unidas, o conflito que eclodiu em 15 de abril de 2023 entre o exército, comandado pelo general Abdel Fattah al-Burhane, governante de facto do país desde um golpe de Estado em 2021, e o seu antigo adjunto, o general Mohamed Hamdan Dagalo, chefe das RSF, já colocou cerca de 30 milhões de sudaneses - o que representa duas em cada três pessoas - a necessitarem de ajuda humanitária, numa altura em que os fundos internacionais disponíveis para este fim estão a ser reduzidos em todos os setores.
Também a Organização Mundial da Saúde alertou que 3,7 milhões de sudaneses estão afetados pela desnutrição.
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