"Faz falta, em Espanha, um movimento feminista no quadro da indústria audiovisual que levante a voz e reconheça que este é um território em que a violência e o machismo são estruturais", defendeu Ana Redondo.
"Falta levantar a voz, um #MeToo espanhol", acrescentou.
A ministra falava em Madrid, na apresentação de um relatório coordenado por duas professoras universitárias e patrocinado pela Associação de Mulheres Cineastas e de Meios Audiovisuais sobre a violência sexual neste setor em Espanha.
O relatório foi feito com base em respostas de 312 sócias da associação, 15 testemunhos e quatro entrevistas a profissionais do setor audiovisual.
Cerca de 60% das mulheres que responderam às investigadoras, todas trabalhadoras no setor do cinema e audiovisual, "sofreu algum tipo de violência sexual", independentemente da idade, revelaram hoje as autoras do estudo, que tem como título "Depois do silêncio. Investigação sobre o impacto dos abusos e as violências sexuais contra as mulheres no setor do cinema e do audiovisual".
As mulheres que se disseram vítimas de agressões referiram violência verbal em 81,4% dos casos; assédio físico em 49,5% e virtual ou digital em 22,3%.
Das mulheres que foram alvo de algum tipo de violência, só 6,9% se queixou a alguma instância policial ou judicial.
O medo de represálias, a insegurança em relação á forma de proceder e o desconhecimento dos mecanismos de denúncia foram as principais razões apontadas pelas entrevistadas para justificar a não denúncia.
O estudo conclui que as violências sexuais no cinema e no audiovisual "são um fenómeno estrutural, normalizado e invisibilizado que requer uma resposta integral, coordenada e urgente por parte da indústria, das instituições e da sociedade para garantir contextos laborais seguros e livres de violência para as mulheres".
A violência sexual neste setor é percebida como "inevitável" e parte do contexto laboral, disse uma das autoras do estudo, Nerea Barjola, na apresentação do documento hoje em Madrid.
Os resultados, insistiu, mostram uma "naturalização e normalização" da agressão sexual nesta indústria, onde existe uma "cultura de permissividade" associada, por outro lado, a hierarquias.
A investigadora acrescentou que as mulheres jovens "veem-se obrigadas a fazer coisas" que não querem para poder avançar profissionalmente.
"Quando admiram uma pessoa ator ou diretor, o consentimento não de todo livre", realçou, condenando o "sistema de silêncios" que existe no setor.
A ministra da Igualdade, Ana Redondo, realçou que está em causa um setor "supostamente progressista".
"Isto leva-nos a uma reflexão fundamental sobre o medo, sobre a impossibilidade de levantar a voz, sobre a necessidade também de companhia, de ligação entre mulheres para alçar a voz e conhecermos o que realmente se está a passar", afirmou.
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