"Eu trago o Papa no Coração desde sempre, mas fortalecido a partir da Jornada Mundial da Juventude 2023 e gostaria de trazer os meus catequizandos para terem a experiência que eu vivi na Jornada Mundial", afirmou à Lusa Fátima Lopes, pouco depois de ter estado hora e meia na fila à espera de ver a urna papal.
Fátima integra um grupo de duas dezenas de pessoas da paróquia do Olival, Vila Nova de Gaia, que está em Roma para o Jubileu dos Adolescentes, agendado para os dias 25 a 27 de abril.
"Não foi possível ver o Papa da janela, mas com coração aberto, viemos vê-lo e despedirmo-nos com uma última homenagem", justificou, emocionada a catequista de 42 anos.
A seu lado, Estrela Pereira, 15 anos, está em Roma pela primeira vez e disse que a homenagem lhe vai ficar na memória.
"O Papa é um símbolo de esperança, não só para mim, mas para todos os jovens, um símbolo de esperança que conseguiu cativar muito as pessoas para a Igreja e seguir o exemplo dele também", afirmou a jovem.
A alguns metros de distância, no registo do jubileu, o catequista João Cardoso, de Sobral de Monte Agraço, não sabe se vai ver ainda o Papa.
"Ainda estamos a discutir", admitiu o catequista, de 23 anos, referindo que o impacto de uma urna exposta pode não ser consensual.
Mas sobre o papel de Francisco, João Cardoso não tem dúvidas.
"O Papa Francisco foi um marco para a nossa história, principalmente de mudança, conseguiu continuar o legado de João Paulo II e modernizar e abrir" a Igreja, indo "à periferia e chegar a todos os povos, sejam cristãos ou não cristãos, católicos ou não católicos".
Por outro lado, "através das suas ações, o Papa Francisco conseguiu motivar os jovens para a Igreja", tornando "mais simples" as "palavras de sempre do Evangelho", explicou.
Exemplo disso foi a adesão ao jubileu dos adolescentes na sua paróquia. "Muitos destes jovens que não foram à Jornada Mundial da Juventude vieram cá".
Opinião semelhante tem Fátima Silva, considerando que este é "simplesmente o Papa de 'todos todos todos'", numa referência à frase dita por Francisco nas Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa.
Esta expressão prevê a "inclusão, dos pobres, dos mais debilitados, dos mais postos à margem da sociedade", porque o "Papa soube incluir, soube modernizar um pouco a Igreja, que estava um bocadinho mais retrógrada", considerou a catequista de Vila Nova de Gaia.
"Este Papa foi fundamental para atualizar a Igreja, as novas formas de comunicação com os jovens, a forma dele lidar com os problemas da Igreja veio mostrar alguma abertura para a Igreja que não existia até então e espero que este legado continue", acrescentou, admitindo algum receio para o futuro.
"Eu acredito que estas portas se possam fechar, porque não sei quem vem a seguir", disse.
Mas se existir "um sucessor com a mesma ideologia" de abrir "as portas da Igreja à modernização" e ao mundo, "creio que é muito difícil chegar à posição e ao carinho deste nosso Papa Francisco", disse ainda.
O corpo de Francisco foi exposto para ser velado na quarta-feira e as exéquias irão terminar com despedidas solenes no sábado, com a transferência para a Basílica de Santa Maria Maior, onde será realizada a cerimónia de sepultamento, como havia sido pedido pelo Papa, com uma única inscrição: "Franciscus".
O Papa Francisco morreu na segunda-feira aos 88 anos, de AVC, após 12 anos de pontificado.
Nascido em Buenos Aires, a 17 de dezembro de 1936, Francisco foi o primeiro jesuíta e primeiro latino-americano a chegar à liderança da Igreja Católica.
A sua última aparição pública foi no domingo de Páscoa, no Vaticano, na véspera de morrer. O papa Francisco esteve internado durante 38 dias devido a uma pneumonia bilateral, tendo tido alta em 23 de março.
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