"Este ano em particular, marcharemos em três frentes. O direito à casa, o direito ao trabalho e o direito à saúde", explicou a presidente da Liga Feminista do Porto, Diana Pinto, em entrevista telefónica à Lusa, referindo que a Liga convocou em janeiro vários coletivos da cidade para organizarem uma "manifestação comum" no Dia Internacional da Mulher Trabalhadora.
No direito à casa, inclui-se o "direito à habitação", mas também o "direito à liberdade" de viver em casa sem violência doméstica, para que as mulheres não encarem a casa como "uma prisão", a "luta contra o trabalho doméstico não remunerado", porque as mulheres continuam a trabalhar "uma a três horas mais do que os homens todos os dias em trabalho doméstico".
No direito ao trabalho, Diana Pinto assume que as reivindicações da manifestação passam pelo "salário igual por trabalho igual", porque as mulheres continuam a atingir uma disparidade salarial com os homens de "14%".
A luta contra o assédio sexual no trabalho, onde se reivindicam "sanções aplicadas ao patronato e empresas quando acontecem violências de assédio sexual", é outra das reivindicações.
"O trabalho é muito frequente ser um espaço de violência. As mulheres são assediadas e são vistas de forma diferente dentro do espaço laboral. Normalmente, são vistas como menos capazes e o seu corpo é o palco de frequentes assédios", declara Diana Pinto.
O "cumprimento real da licença da maternidade", "12 meses de licença parental partilhada sem perda de salarial" e a "criação de espaços em todos os locais de trabalho que permitam às mulheres amamentarem em segurança" são outras reivindicações.
Na luta pelo direito à saúde "universal gratuita e de qualidade", inclui-se também o aumento das semanas pelo acesso à IVG (aborto) em Portugal, e a luta contra a violência obstétrica.
A presidente da Liga Feminista do Porto defende, por outro lado, que é necessário colocar "um travão ao subsídio aos acionistas de saúde privada", argumentando que dever ser feito de imediato "um investimento massivo no Serviço Nacional de Saúde".
Os serviços de planeamento familiar públicos e gratuitos, bem como contracetivos e artigos de higiene íntima gratuitos nas farmácias são outras das reivindicações da manifestação no Porto.
A manifestação sai da frente do Palácio da Justiça às 19:00, do dia 08 de março, e vai até ao topo da Avenida dos Aliados.
A manifestação tem o apoio do Coletivo Feminista da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, Coletiva Maria Filipa (organização de mulheres imigrantes brasileiras e as suas experiências laborais), Vozes da Mulher (que trabalha questões da saúde e ao parto humanizado), plataforma 'online' "As Brasileiras Não se Calam" (que trabalha as questões da imigração brasileira), e "dezenas de mulheres que individualmente deram o seu contributo", enumerou Diana Pinto.
Diana Pinto lembrou que o ano de 2021 foi caracterizado por "momentos de poderosos confrontos entre as mulheres do Porto" e as "forças instaladas" que "oprimem" as mulheres.
"As nossas ruas tornaram-se palco de profundas clivagens e de novas e velhas reivindicações, numa força que se organizou em torno das mais variadas bandeiras, desde o direito ao parto humanizado, ao acesso à saúde reprodutiva, pelo direito a viver vidas livres de violência e em luta contra o machismo estrutural, a xenofobia e a violência masculina", disse.
A par da manifestação, a Liga Feminista tem agendada a sessão pública "Desigualdades e violência no acesso a cuidados de saúde", com Mia Negrão, que acontece no próximo sábado às 15:30 no Café Piolho.
No dia 08 de março, às 17:00, na Praça Carlos Alberto, junto a Cedofeita, a Liga organiza a "Oficina de Cartazes", onde toda a comunidade tem oportunidade de conviver e construir o seu próprio cartaz para a manifestação do Dia Internacional da Mulher.
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