O escritor, cronista e gestor cultural António Mega Ferreira morreu hoje, em Lisboa, confirmou à agência Lusa fonte próxima do antigo jornalista.
"Era um grande intelectual, escritor, jornalista, tradutor, e era um grande conhecedor, um homem muito curioso de várias áreas", disse a antiga comissária, contactada pela agência Lusa, que trabalhou de muito perto com Mega Ferreira na equipa do projeto internacional, decorrido quase há 25 anos.
António Mega Ferreira, nascido em 1949, com mais de trinta obras publicadas, entre ficção, ensaio, poesia e crónica, chefiou a candidatura e foi comissário da Lisboa Expo98, depois presidente da Parque Expo, e também dirigiu a Fundação Centro Cultural de Belém, entre 2006 e 2012.
"Não era da área das letras, da História da Arte, nem da arquitetura, mas António Mega Ferreira tinha uma sensibilidade enorme para a evolução das cidades, e a forma como achava que deveriam crescer. Além de todas as qualidades que tinha - sentido crítico, humor, curiosidade - era um grande realizador. Ele sonhava e realizava. Que é uma coisa rara", avaliou a historiadora de arte, de 76 anos.
Simonetta Luz Afonso considerou ainda que "há pessoas muito inteligentes que têm grandes projetos, mas nunca os realizam. Mas Mega Ferreira não deixava os projetos na gaveta".
O escritor e gestor cultural liderou a candidatura de Lisboa para a Exposição Internacional e "teve de batalhar muito para a conseguir realizar, convencendo, não apenas o gabinete de seleção, para escolher a capital portuguesa, mas também o próprio Governo, na altura", recordou a ex-comissária de Portugal no evento.
Na opinião de Simonetta Luz Afonso, foram "as estratégias e pensamento" do escritor e gestor cultural que fizeram toda a diferença: "Houve muitos críticos que diziam que era dinheiro deitado à rua. Não foi. Fez-se uma grande exposição, um grande evento, que foi temporário, mas muito importante para a zona oriental de Lisboa, que, antes da Expo98, era uma lixeira".
"Isso, para mim, foi a grande obra, a grande realização de Mega Ferreira. A recuperação de uma parte significativa da capital", sustentou, recordando que, durante a exposição o escritor esteve muito doente.
"Mesmo depois de fazer uma operação gravíssima, nunca parou de trabalhar a partir do hospital. Isso mostra a resiliência que tinha", evocou a antiga comissária de Portugal na Expo98.
Leia Também: Mega Ferreira. Figuras públicas lembram um intelectual que marcou o país