O ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, João Gomes Cravinho, afirmou, esta segunda-feira, que "não há uma visão perfeitamente clara" sobre o que aconteceu na Rússia, mas que é "evidente" que "não há coesão" no país.
Após uma reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia, em Bruxelas, João Gomes Cravinho notou que houve "oportunidade de falar sobre os últimos desenvolvimentos" no país liderado por Vladimir Putin e "muito em particular a necessidade" de manter "o foco no apoio à Ucrânia".
"Apoio militar, e isso passa apelo aumento de 3,5 mil milhões de euros para o mecanismo europeu de apoio à paz" e "apoio político, que passou pelo 11.º pacote de sanções" à Rússia, "que foi aprovado".
"Eu creio que o fundamental é continuar a apoiar a Ucrânia", notou o ministro português, após ser interrogado sobre se a rebelião desencadeada pelo grupo Wagner na Rússia pode ter representado uma oportunidade para a Ucrânia, que tem em curso uma contraofensiva.
"Nos não sabemos ainda, não há uma visão perfeitamente clara daquilo que se passou na Rússia, talvez demore algum tempo. Mas isso não nos deve distrair do essencial e o essencial é continuar o forte apoio militar, o forte apoio político à Ucrânia, para que no final deste processo seja a Ucrânia a determinar quais são os termos da paz e não o agressor", sublinhou Gomes Cravinho.
Apesar de haver "ainda pouca clareza" sobre o que aconteceu na Rússia, João Gomes Cravinho considerou que "é evidente" que "não há coesão" no país.
"É evidente que não há coesão, é evidente que a situação é uma situação de alguma fragmentação do poder. É o mínimo que se pode dizer, mas não sabemos exatamente em que termos", afirmou.
"Não sabemos agora se a Wagner vai investir ainda mais em África"
O governante confessou ainda que há "preocupação" em relação às consequências que a situação terá em África.
"Houve manifestações de preocupação em relação aos efeitos sobre o continente africano. Como se sabe a Wagner desempenha um papel profundamente nocivo em vários países, a República Centro-Africana, Mali, Burkina Faso, entre outros, e não sabemos agora se a Wagner vai investir ainda mais em África ou se terá outras funções, mas é preocupante", disse.
"Qualquer sítio onde a Wagner esteja é fonte de preocupação e se reforçar a sua presença em África isso é algo que deve ter também uma resposta da parte da União Europeia em termos de maior apoio a esses países para que não tenham de depender da Wagner", acrescentou.
Portugal cede 170 milhões para Mecanismo de Apoio à Paz até 2027
Sobre o aumento em 3,5 mil milhões de euros do teto financeiro do Mecanismo Europeu de Apoio à Paz, hoje aprovado, Cravinho adiantou: "A Portugal cabe 1,5% do total. Portanto, com o aumento de 3,5 mil milhões leva um total de 10 mil milhões e meio, o que significa para Portugal qualquer coisa como 170 milhões de euros até 2027, se a totalidade for gasta. Portanto, isso é o que está em cima da mesa como possibilidade, agora dependendo naturalmente da necessidade de se gastar esse dinheiro", afirmou.
Interrogado sobre se será fácil convencer o ministro das Finanças sobre a necessidade de gastar este dinheiro, o ministro dos Negócios Estrangeiros português destacou que não há "nenhum" governante dos Estados-membros que fique "alegre", mas destacou que "é necessário" fazer este esforço dada a situação excecional que vivemos.
"Eu creio que não há nenhum ministro das Finanças dos 27 que fique alegre com a necessidade de investirmos tanto dinheiro no Mecanismo Europeu de Apoio à Paz, mas creio que todos os ministros das Finanças e todos os primeiros-ministros e presidentes, no âmbito da União Europeia, percebem que é necessário fazer esses esforço atendendo às circunstâncias excecionais que vivemos", rematou.
Recorde-se que o líder do grupo paramilitar Wagner, Yevgeny Prigozhin, avançou, na sexta-feira, com uma rebelião na Rússia, que acabou por suspender menos de 24 horas depois, já após ter ocupado Rostov, uma importante cidade no sul do país para a logística da guerra na Ucrânia.
Prigozhin acusara antes o Exército russo de atacar acampamentos dos seus mercenários, provocando "um número muito grande de vítimas". As acusações foram negadas pelo Ministério da Defesa da Rússia.
Vladimir Putin discursou ao país e falou numa "ameaça mortal" ao Estado russo e numa "traição".
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