"Desde o primeiro momento em que fizemos o 25 de Abril pensámos sempre que ia ser possível criar condições a sério para uma vida justa, não é mais justa, uma vida mais justa é injusta na vida, é uma vida justa", sublinhou à Lusa, depois de entoar no Largo do Carmo, em Lisboa, junto com mais de mil manifestantes pró-Palestina a música "Grândola, Vila Morena", que se tornou símbolo da Revolução de Abril.
Mário Tomé, também conhecido como major Tomé, notou, porém, que atualmente se assiste, mediante "formas mais subtis ou mais brutais, que se está a ficar nas mãos dos mesmos de sempre".
"Portanto, neste momento, eu acho que todos devemos imaginar - aquilo que normalmente se chama utopia - é um futuro como deve ser, em que a política e a economia estejam nas mãos dos trabalhadores. Isso é que foi a essência, não do 25 de Abril - o 25 de Abril existiu para acabar com a guerra colonial - mas da luta popular que saiu à rua pela porta aberta pela revolução militar. E essa foi sempre a utopia: é um mundo novo, um mundo justo, um socialismo", continuou.
Falando à Lusa mesmo em frente ao quartel do Carmo, palco da rendição do último dirigente do Estado Novo, Marcello Caetano, aos homens comandados por Salgueiro Maia, o militar que criticou em 1972 a guerra colonial disse que continua a sair à rua para se fazer ouvir em defesa do que acredita.
"Sempre na rua e a fazer aquilo que a rua nos pede, que é criar as condições para aqueles que a percorrem para trabalhar e para viver possam viver decentemente, em liberdade, e impedir a guerra que está a alastrar pelos mesmos que a fizeram sempre", salientou.
Mário Tomé considerou ainda que atualmente está a ser seguido um discurso de defesa do rearmamento quando se diz que não há "dinheiro para a saúde, para a educação, para o estudo".
"É uma vergonha absoluta", concluiu.
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