A Real Academia Sueca de Ciências anunciou hoje a atribuição do Prémio Nobel da Química a David Baker, Demis Hassabis e John M. Jumper, "pelo 'design' computacional de proteínas" e "pela previsão da estrutura de proteínas".
Em declarações à Lusa, a docente e investigadora do departamento de Química da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Nova (Nova FCT) de Lisboa explicou que os avanços na previsão computacional "foram extremamente importantes", tornando "mais fácil e mais rápido o trabalho experimental".
"Foi uma verdadeira revolução na comunidade da biologia estrutural. E, em todo o mundo, os laboratórios de biologia estrutural -- e não só -- passaram a usar esta ferramenta para acelerar o processo de visualização da estrutura", como a identificação de "cada átomo da estrutura de uma proteína", referiu a professora catedrática.
Para Maria João Romão, os trabalhos dos químicos galardoados "é imenso" e dão "um enorme impulso à biologia estrutural, ao permitir prever computacionalmente a estrutura 3D com detalhe atómico das proteínas e outras biomoléculas".
"A combinação entre os dois processos, a parte computacional e a parte experimental, é fundamental. A comunidade de biologia estrutural tem trocado muita informação, através de redes sociais e de comunidades internacionais, e sabe-se que vão existir outros desafios [...] como a previsão de complexos macromoleculares e de complexos de proteínas com ligantes, por exemplo, fármacos", realçou.
De acordo com a especialista, da Unidade de Ciências Biomoleculares Aplicadas (UCIBIO) da Nova FCT, as descobertas de David Baker, Demis Hassabis e John M. Jumper servem para "compreender melhor o funcionamento das moléculas da vida", incluindo a razão pela qual algumas doenças se desenvolvem, a resistência aos antibióticos, desenvolvimento de novos medicamentos e novas vacinas.
Também ajudam a perceber porque é que alguns micróbios conseguem decompor o plástico.
"Existem enzimas que decompõem o plástico e outras que conseguem converter o CO2 [Dióxido de Carbono] atmosférico em combustíveis alternativos. Há toda uma panóplia de áreas em que isto tem impacto imenso", salientou, acrescentado que é "uma verdadeira revolução de trazer a área da inteligência artificial para as áreas da biologia, da bioquímica e da medicina".
Em 2023, o prémio foi atribuído aos cientistas Moungi Bawendi, Louis Brus e Alexei Ekimov, pela descoberta de pontos quânticos, fundamentais para a nanotecnologia pela descoberta e síntese de pontos quânticos.
Os galardoados vão partilhar um prémio de 11 milhões de coroas suecas, perto de 967 mil euros, ao câmbio atual.
O Prémio Nobel da Física já foi atribuído 116 vezes, desde a primeira vez em 1901. O galardão não foi atribuído em oito ocasiões: 1916, 1917, 1919, 1924, 1933, 1940, 1941 e 1942.
Os prémios Nobel, criados em 1895 pelo químico, engenheiro e industrial sueco Alfred Nobel (inventor da dinamite), foram atribuídos pela primeira vez em 1901.
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