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Arcebispo de Manaus alerta que Igreja não pode esquecer realidade onde vive

O arcebispo de Manaus, Leonardo Steiner, defendeu hoje, em Fátima, que "a Igreja não pode esquecer a realidade concreta onde vive", nomeadamente a situação dos mais pobres.

Arcebispo de Manaus alerta que Igreja não pode esquecer realidade onde vive
Notícias ao Minuto

12/10/24 19:27 ‧ Há 2 Horas por Lusa

País Igreja

Em conferência de imprensa a poucas horas do início das cerimónias da peregrinação internacional aniversária ao Santuário de Fátima, o prelado daquela diocese da Amazónia recorreu ao sínodo sobre a Amazónia, realizado em 2019, no Vaticano, para sublinhar os "sonhos do Papa Francisco", sonhos "de um caminho a ser percorrido, sonhos que levam à ação".

 

Quando fala do sonho social, "a Igreja não pode esquecer a realidade concreta onde vive, não pode esquecer os pobres, a Igreja não pode esquecer as tensões que vivem o povo, que vivem os fiéis", disse o arcebispo brasileiro, dando particular ênfase à questão ambiental.

"Nós vivemos uma situação extremamente difícil na Amazónia. Vivemos uma verdadeira depredação na Amazónia, com a desflorestação. Temos uma pesca predatória. Esse sonho ambiental é um sonho que estamos a tentar, como Igreja, abraçar e fazer com que trespasse toda a nossa ação evangelizadora", disse o arcebispo, questionando: "o que será do mundo e do Brasil sem a floresta da Amazónia?".

Leonardo Steiner, que se deslocou propositadamente de Roma, onde participa nos trabalhos do sínodo dos bispos que decorre até 27 de outubro, disse que este encontro de prelados de todo o mundo pretende "uma Igreja mais ativa, leigos, leigas, pessoas preparadas, atuantes na comunidade, atuantes no meio político, atuantes onde quer que cada um esteja".

"Todos nós somos Igreja, mas a Igreja não é uma organização, a Igreja é um sinal do Reino de Deus", acrescentou.

O arcebispo de Manaus foi questionado sobre a possibilidade da admissão das mulheres ao ministério diaconal, tema que ficou de fora do 'Instrumentum Laboris' (Instrumento do Trabalho) e considerou que "alguns elementos" terão de ser aprofundados.

"Nós estamos num momento muito difícil na Igreja, de tensão quanto a essas questões", disse Steiner, defendendo um "aprofundamento, não apenas teológico, mas histórico, patrístico", para mostrar à Igreja essa viabilidade.

O fim do "modelo piramidal" do exercício do poder na Igreja Católica, substituindo-o por um método "sinodal" é defendido no documento de trabalho para a Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, que está a decorrer em Roma em outubro.

Para isso, o 'Instrumentum Laboris' preparado para a sessão que decorrerá até 27 de outubro apela a uma transformação de "estruturas e processos" nas comunidades católicas e sublinha a necessidade de "superar uma visão estática dos lugares, que os ordena por níveis ou graus sucessivos segundo um modelo piramidal".

Neste ponto, o documento advoga que o ministério ordenado, passe "de um modo piramidal de exercitar a autoridade para um modo sinodal", de diálogo permanente com todos, e sublinha que "na Igreja o exercício da autoridade não consiste na imposição de uma vontade arbitrária".

"A sinodalidade não implica, de modo algum, a desvalorização da autoridade e da missão específica que o próprio Cristo confiou aos pastores, os bispos com os presbíteros", continua o documento, defendendo a necessidade de um "descentramento do governo e da planificação pastoral".

Entre os 112 pontos que constituem o documento de trabalho, surge o alerta de que "a disponibilidade para a escuta de todos, especialmente dos pobres, promovida pelo estilo de vida sinodal está em nítido contraste com um mundo em que a concentração do poder exclui os pobres, os marginalizados e as minorias".

O Instrumento de Trabalho avisa, também, que se vive uma "época marcada por desigualdades cada vez mais acentuadas", e chama a atenção para a "crescente desilusão face aos modelos tradicionais de governo, pelo desencanto em relação ao funcionamento da democracia".

Apelando à "escuta das pessoas que vivenciam vários tipos de pobreza e marginalidade" e criticando a "cultura mercantil que marginaliza a gratuidade", o documento de base para a reunião no Vaticano aponta que "um mundo em crise, cujas feridas e desigualdades escandalosas ressoam dolorosamente no coração de todos os discípulos de Cristo".

O texto preparado pela Secretaria-Geral do Sínodo, a partir dos contributos que lhe chegaram, desde logo das Conferências Episcopais, depois da auscultação das comunidades católicas, defende, também, que uma Igreja sinodal "necessita da cultura e prática da transparência e prestação de contas", e alerta para a "perda de credibilidade resultante dos escândalos financeiros e principalmente dos abusos sexuais" que afetaram a Igreja Católica nos últimos anos.

Em destaque, ainda, a urgência de um maior protagonismo da mulher na Igreja, com os contributos recolhidos na fase de auscultação a apontarem para "a necessidade de conferir um maior reconhecimento aos carismas, às vocações e ao papel das mulheres em todos os aspetos da vida da Igreja"

Porém, as discussões ao longo da Assembleia Geral do Sínodo não vão incidir sobre a admissão das mulheres ao ministério diaconal.

O texto não esconde, no entanto, a necessidade de "participação mais alargada das mulheres nos processos de discernimento eclesial e em todas as fases dos processos decisórios (proposta e tomada de decisões)", bem como um "acesso mais alargado a posições de responsabilidade", das dioceses aos seminários e faculdades de teologia.

A representação portuguesa na segunda sessão da Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos é composta pelos presidente e vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), José Ornelas e Virgílio Antunes, respetivamente, e pelo cardeal Américo Aguiar, por nomeação do Papa. Como "assistentes e colaboradores", estarão nos trabalhos o padre Paulo Terroso, da arquidiocese de Braga, e Leopoldina Simões, assessora de imprensa.

Outro português, o cardeal José Tolentino Mendonça, toma parte nesta reunião enquanto prefeito do Dicastério para a Cultura e para a Educação.

Leia Também: Igreja quer reconhecimento das escolas católicas no ensino em Portugal

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