"Nunca disse a Paulo Malafaia [um dos empresários imobiliários], nem a qualquer outra pessoa que ia corromper o engenheiro Patrocínio Azevedo, dei a entender que ia conseguir resolver os problemas e que, para isso, queria determinado montante", disse hoje o arguido na Operação Babel, perante o coletivo de juízes do Tribunal de Vila Nova de Gaia, no distrito do Porto.
E insistiu: "Dei a entender que o dinheiro não era para mim, que era para terceiros, mas nunca disse que ia corromper o engenheiro Patrocínio. Não sei o que ia na cabeça deles".
Depois, e num depoimento confuso, o advogado assumiu que tentou criar um cenário que era para o ex-autarca.
"Nunca lhes disse abertamente que este dinheiro era para, dei a entender que conseguia facilitar a solução, através de dinheiro", frisou.
João Pedro Lopes explicou que a sua mais-valia neste caso era ter a facilidade de marcar reuniões com o ex-vice-presidente, nada mais do que isso.
"Não houve nenhuma aceleração de procedimentos", garantiu.
A Operação Babel, relacionada com a alegada viciação e violação de normas e instrução de processos de licenciamento urbanísticos em Gaia, tem 16 arguidos, incluindo Patrocínio Azevedo, os empresários do ramo imobiliário Paulo Malafaia e Elad Dror, fundador do grupo Fortera, acusados de dezenas de crimes económicos, como corrupção e tráfico de influências.
O Ministério Público (MP) sustenta que Elad Dror e Paulo Malafaia "combinaram entre si desenvolverem projetos imobiliários na cidade de Vila Nova de Gaia, designadamente os denominados Skyline/Centro Cultural e de Congressos, Riverside e Hotel Azul", contando com o alegado favorecimento por parte do antigo vice de Gaia, que receberia em troca dinheiro e bens materiais como relógios.
Segundo o MP, o advogado João Pedro Lopes, igualmente arguido neste processo, fazia a ponte de Paulo Malafaia e Elad Dror com Patrocínio Azevedo.
João Pedro Lopes referiu que, a certa altura, os empresários, nomeadamente Paulo Malafaia e Elad Dror, perceberam que o dinheiro não era para terceiros, nomeadamente para Patrocínio Azevedo, mas para si.
"Até pela insistência que eu fiz, aliás, as próprias mensagens demonstram que o dinheiro era para mim. Depois eles [empresários] confessaram que sabiam que o dinheiro era para mim e não para o Patrocínio", atirou.
O advogado reafirmou que, no total, recebeu 50 mil euros dos empresários e não 125 mil euros, tal como sustenta a acusação.
Esse dinheiro foi usado para despesas familiares e de saúde, revelou.
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