Associação alerta para desajuste das regras de acolhimento de jovens

O presidente da Plataforma de Apoio a Jovens (Ex)acolhidos alertou para a necessidade de ajustar as regras das casas de acolhimento às necessidades dos jovens e lamentou que esta problemática permaneça invisível, só sendo lembrada "quando há alguma desgraça".

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Lusa
20/02/2025 07:59 ‧ ontem por Lusa

País

Jovens

Pelo quarto ano consecutivo, assinala-se em Portugal o Dia do Acolhimento, desta vez no dia 21 de fevereiro, para chamar a atenção para todas as crianças e jovens que, em algum momento da sua vida, foram retiradas à família biológica e tiveram de crescer numa instituição ou numa família de acolhimento, e para todas as pessoas que cuidam delas nessa fase.

 

Em entrevista à agência Lusa, o presidente da Plataforma de Apoio a Jovens (Ex)acolhidos (PAJE) lamentou que haja "um manto de invisibilidade" em relação a esta problemática e a estas crianças e jovens, que "só sai quando há alguma desgraça" ou durante a época do Natal.

João Pedro Gaspar apontou que, à exceção desses momentos, e de uma maneira geral, a sociedade não se lembra destes jovens e sublinhou que o Dia do Acolhimento serve para que, "pelo menos uma vez por ano, a sociedade civil pense nestas crianças e jovens que foram privados de um direito fundamental, que é o direito a crescer numa família".

Segundo os dados oficiais mais recentes, relativos ao ano de 2023, Portugal tem quase 6.500 crianças e jovens em acolhimento, dos quais 356 vivem numa família de acolhimento, enquanto os restantes vivem numa instituição, números que o presidente da PAJE diz que se têm mantido sem grande oscilação nos últimos dois, três anos.

Segundo João Pedro Gaspar, entre estas crianças e jovens sobressaem os problemas de saúde mental, para os quais não há pedopsiquiatras em número suficiente no país e "o acesso a psicoterapias também não é tão bom como seria desejável".

Alertou que "isto tem implicações" pela vida fora porque "o que se passa na infância não fica na infância" e a falta de acompanhamento especializado faz com que entrem na adolescência e não consigam ultrapassar questões que lhes provocam "enorme sofrimento e trauma".

"Isso reflete-se na escola e noutros contextos. Temos jovens que têm a cabeça ocupada com medos e quando se tem a cabeça ocupada com medos, não há espaços para ter sonhos. E quando se é criança ou jovem e não se tem sonhos, acaba-se por ter uma vida que não é muito feliz", alertou.

Destacou que, por isso, "a automutilação, a ideação suicida estejam muito presentes em quem tem vivência de acolhimento residencial".

Explicou que o propósito da PAJE é apoiar os jovens quando saem do sistema de acolhimento, tendo ajudado entre 450 e 500 desde que foi criada, espalhados por todo o país.

Também é objetivo ajudar e dar formação a quem cuida, de maneira a que a autonomização dos jovens seja mais bem preparada, tanto do ponto de vista funcional como emocional.

Segundo o responsável, "há um desajustamento entre as regras das casas de acolhimento e as necessidades dos jovens", em que eles se sentem muitas vezes "quase reféns" face às regras impostas.

"As casas de acolhimento, por vezes, também não são flexíveis e, quando isso acontece, os jovens anseiam pela noite mágica, dos 17 anos e 365 dias, porque finalmente são adultos e finalmente podem fazer o que querem", apontou.

Só que, às vezes, "partem a corda e são um dos principais prejudicados no imediato e ao longo da vida", alertou João Pedro Gaspar, para quem a culpa também é do "pai-Estado" que não consegue ir ao encontro das necessidades daqueles jovens e do que eles estão a sentir.

Apontou que as "saídas precipitadas" para alguns são "mesmo uma desgraça", com casos de jovens que acabam presos, a viver em situação de sem-abrigo ou que se suicidam.

Defendeu que todos os intervenientes no sistema de promoção e proteção estejam disponíveis para saber ouvir os jovens, colocando-lhes várias opções, e dando margem para que eles partilhem a sua opinião sobre o que acham que seria melhor.

Para assinalar o Dia do Acolhimento, a PAJE organiza um seminário em Coimbra, no dia 21, no qual vários jovens, a viver no sistema de acolhimento ou ex-acolhidos, vão partilhar a sua experiência de vida.

Paralelamente, o dia é também comemorado em todas as casas de acolhimento, que têm iniciativas próprias, seja "enviar mensagens surpresa nas mochilas dos meninos", fazer um bolo, ter um "pequeno-almoço de hotel", um almoço melhorado ou outra atividade coletiva.

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