No estudo Patient Reported Indicators Surveys (PaRIS), o maior inquérito internacional aplicado a utilizadores de serviços de saúde, que é apresentado hoje em Lisboa, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) diz que mais de metade dos 100.000 utentes com 45 anos ou mais que recorreram aos cuidados primários nos seis meses anteriores ao inquérito tinham pelo menos duas doenças crónicas.
Mais de um em cada quatro tinha pelo menos três.
Os investidores lembram que a esperança de vida à nascença aumentou mais de dez anos desde 1970 nos países da OCDE, a par do crescimento do número de pessoas a viver com doenças crónicas, assim como da despesa em cuidados de saúde.
Os resultados "permitem uma compreensão mais profunda do que é importante para os doentes" e sublinham "uma relação clara entre as experiências dos doentes nos cuidados de saúde primários e a saúde física, mental e social que reportam", refere o documento.
Como exemplo, o PaRIS mostra que, na Suíça e entre a população dos Estados Unidos com 65 anos ou mais inscrita nos cuidados de saúde, "a maioria relata consistentemente experiências de cuidados positivas e melhores resultados em saúde", quando comparados com a média da OCDE.
Na Austrália, República Checa, França e Noruega, a maioria das pessoas também relatam experiências positivas com os cuidados de saúde primários, apresentando resultados de saúde "relativamente bons".
O Reino Unido e Portugal apresentam pontuações "relativamente fracas" tanto em resultados em saúde como em experiência reportada pelos utentes.
Mesmo nos países com melhor desempenho há grandes variações entre os resultados de saúde e as experiências reportadas entre os diferentes grupos socioeconómicos.
O estudo mostra igualmente que maiores gastos em saúde podem estar associados a melhores resultados para alguns indicadores, mas não garantem melhores resultados de saúde, e sublinha que é possível atingir "um desempenho comparativamente forte" com menores despesas em saúde.
"A República Checa e a Eslovénia, por exemplo, apresentam ambas boas pontuações na maioria dos indicadores do PaRIS e têm gastos de saúde 'per capita' relativamente baixos", conclui.
Por outro lado, a OCDE sublinha que uma maior disponibilidade de médicos e enfermeiros está associada positivamente a três dos dez indicadores do PaRIS, que incluem, entre outros, a saúde física, a saúde mental, o bem-estar, a capacidade de autogestão da saúde, a confiança no sistema de saúde e a qualidade experimentada pelo utente.
Por exemplo, em países com maiores forças de trabalho na área da saúde, como a Islândia, a Noruega e a Suíça, a média do bem-estar da população é mais elevada. O mesmo acontece para a saúde física e mental.
Em todos os países envolvidos existem disparidades de género significativas nas experiências e nos resultados em saúde dos doentes. Em média, as pontuações de bem-estar das mulheres são normalmente 3% a 5% mais baixas do que as dos homens.
Essa diferença na pontuação chega a 9%, como Portugal e Itália, "dois países com níveis globais relativamente baixos de desempenho", e é inferior a 3% no Luxemburgo e nos Estados Unidos, que apresentam um desempenho "relativamente bom".
As pessoas com baixos níveis de educação e de rendimento enfrentam uma "dupla desvantagem": "Adoecem e desenvolvem mais doenças crónicas mais cedo na vida e, uma vez doentes, apresentam piores resultados de saúde quando comparados com os doentes crónicos com melhor situação em termos de educação e rendimento".
Por exemplo, entre os utentes com 45 a 54 anos de idade, 34% dos que têm educação superior não apresentam doenças crónicas, comparado com 23% naqueles com piores níveis de educação.
Há igualmente diferenças significativas na saúde mental e física entre os que apresentam melhores ou piores níveis de educação, refere o estudo.
A OCDE aponta ainda para uma necessidade urgente de adaptar os sistemas de saúde às necessidades da população que vive com várias doenças crónicas: "É mais complexo e caro gerir múltiplas condições crónicas do que gerir uma única".
Os dados mostram igualmente que quem tem várias doenças crónicas tem pior saúde mental e menos confiança na autogestão da sua saúde e diz que a tecnologia digital "pode ajudar a melhorar a experiência do utente", assim como os resultados conseguidos, apontando a necessidade de mais cruzamento de informação digital na saúde.
O estudo conclui pela necessidade de adotar políticas específicas para combater as desigualdades, melhorar a coordenação dos cuidados e reforçar a confiança nos sistemas de saúde e defende que incentivar a participação dos doentes nas decisões e promover relações fortes com os profissionais de saúde pode conduzir a melhores resultados em saúde e maior confiança no sistema.
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