"Senti necessidade de sair da zona de conforto. É preciso salvar o PSD"

O antigo líder parlamentar deixou no ar a promessa, no último Congresso do partido, e esta sexta-feira cumpriu-a. Disse que ia andar por aí e que quando pensasse agir não pediria "autorização a ninguém", e assim fez. Luís Montenegro acaba de anunciar que é candidato à liderança do PSD contra Rui Rio.

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Sara Gouveia com Ana Lemos
11/01/2019 16:10 ‧ 11/01/2019 por Sara Gouveia com Ana Lemos

Política

Luís Montenegro

Pouco depois da hora marcada, 16h, Luís Montenegro apresentou-se no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, palco por si escolhido para anunciar a sua disponibilidade para disputar a presidência do PSD. Numa declaração de cerca de 20 minutos, sem direito a perguntas dos jornalistas, o social-democrata criticou o estado atual do PSD responsabilizando a direção de Rui Rio.

"Passou um ano desde a eleição do dr. Rui Rio como líder do PSD. Um ano depois o estado a que o PSD chegou é mau, preocupante e irreversível com esta liderança. Rui Rio prometeu fazer do PSD uma alternativa e uma oposição firme ao Governo. Falhou", começou por dizer.

O social-democrata continuou lamentando que "ao fim de um ano não se reconhece um projeto, uma estratégia, um posicionamento, uma mensagem diferenciadora e mobilizadora".

Montenegro associou ainda o líder do PSD a António Costa e ao PS. "Enquanto os portugueses assistem ao desfile de António Costa na sua senda obsessiva de ganhar pela primeira vez umas eleições legislativas, olham para o lado e ou não conseguem ver nada ou apenas observam um PSD frouxo a fazer oposição. Mais, não há uma crítica de Rui Rio a António Costa, há complacência e condescendência".

"Não há uma crítica de Rui Rio a António Costa, há complacência e condescendência"Rui Rio colocou o PSD como muleta do PS e Rui Rio como bengala de António Costa", acusou Montenegro. E continuou a elencar aquelas que considera terem sido as propostas e falhas do antifgo autarca do Porto. "Prometeu unir o PSD. Falhou", "prometeu fazer o PSD subir nas sondagens. Falhou", "prometeu levar o PSD a ganhar eleições, em vez disso, o PSD resignou-se e deitou a toalha ao chão com esta liderança".

"Além de falhar, foi instigador do confronto interno, hostilizando quadros e estruturas do PSD numa lógica maniqueísta e de divisão entre bons e maus, o que é inadmissível", criticou.

"O PSD corre o risco de ter uma derrota humilhante, perdendo a natureza de grande partido nacional e entrando num processo de enfraquecimento que pode ser brutal e irreversível"Onde está o PSD que fala para os jovens, que fala e representa a classe média, que fala e tem propostas para os pensionistas e para os reformados, que incentiva e defende as PME’s, que representa a Sociedade Civil que não quer viver de dependências excessivas do Estado, que combate o excesso de impostos, que promove o ambiente, que aposta na tecnologia e no empreendedorismo? Onde está o PSD das causas e reformas que mobilizam as sociedade e os seus setores mais dinâmicos?", questionou, concluindo que "infelizmente este PSD hoje não existe, mas tem de voltar a existir".

Em tom de previsão, o antigo deputado referiu ainda que "pelo andar da carruagem, se nada for feito, o PSD corre o risco de ter uma derrota humilhante, perdendo a natureza de grande partido nacional e entrando num processo de enfraquecimento que pode ser brutal e irreversível".

Em seguida, Montenegro fez então o anúncio (tão) esperado: "Estou disponível para me candidatar de imediato à liderança do PSD", desafiando Rui Rio a marcar eleições diretas já e a apresentar a sua própria candidatura.

"Se [Rui Rio] tem mesmo Portugal à frente de tudo, mostre coragem e não hesite em marcar estas eleições internas, não tenha medo do confronto, não se justifique atrás de questões formais, o tempo é de confronto político entre duas estratégias que são distintas", afirmou, num desafio direito ao líder do PSD e justificado com o facto de não se querer resignar "a um PSD pequeno, perdedor, irrelevante, sem importância política e relevância estratégica".

O agora concorrente à liderança dos social-democratas lembrou que não pediu "licença a ninguém" para ser candidato porque é "um homem totalmente livre, de bem com a vida" e, por isso, chegou aqui "porque quero estar e porque sinto que devo estar".

"Estou aqui para ser o adversário que o primeiro-ministro António Costa não tem tido

Quase a terminar, Montenegro justificou ainda a sua candidatura a meio do mandato de Rio com a "grave e brutal" alteração de circunstâncias, defendendo ser necessário salvar o partido "do abismo" e prometendo "um tempo de esperança". Recordou e assumiu ter sempre defendido que "os mandatos devem ir até ao fim", acrescentando que mantém essa posição "em circunstâncias normais". "Mas já não estamos a viver uma situação normal. Houve uma brutal e grave alteração de circunstâncias em relação à eleição de há um ano", justificou.

E se o anúncio agradou a alguns, também desagradou a outros tantos.

A vice-presidente do PSD, Isabel Meirelles, acusou, na tarde desta sexta-feira, Luís Montenegro de mentir. Numa declaração que decorreu momentos depois da do atual candidato à liderança do partido, Isabel Meirelles criticou, a título pessoal, o "tom de vacuidade e politiqueiro" do ex-deputado.

Antes, no final do debate quinzenal desta sexta-feira, o primeiro do ano, vários deputados sociais-democratas foram questionados sobre a atitude de Montenegro. A 'ala de Passos' mostrou-se satisfeita com a decisão. Paula Teixeira da Cruz que considera que o PSD é neste momento "um carro a ir contra uma parede".

Mais confiante está Teresa Morais. Na opinião da deputada, Luís Montenegro apresenta-se como uma alternativa e vai mais longe ao responsabilizar a direção de Rio de ter "dividido" o partido. Quem não quis entrar nesta troca de palavras foi o atual líder da bancada, Fernando Negrão.

Chamada ao caso, a direção do PSD acusa o ex-líder parlamentar da bancada 'laranja' de "golpe de Estado", prometendo que irá respeitar e cumprir "à risca" os estatutos do partido.

E o que consta nos estatutos do PSD?

A antecipação do calendário eleitoral terá de passar por uma deliberação do Conselho Nacional, estando em curso um movimento de algumas distritais de recolha de assinaturas para a realização de uma reunião extraordinária deste órgão, com vista à apresentação de uma moção de censura à direção de Rui Rio.

O Conselho Nacional do PSD reúne-se extraordinariamente, segundo os estatutos, "a requerimento da Comissão Política Nacional, da Direção do Grupo Parlamentar, ou de um quinto dos seus membros", cerca de 30 elementos, num órgão que tem 70 elementos eleitos e quase o mesmo número por inerência.

A aprovação de uma moção de censura - que tem de ser subscrita por um mínimo de um quarto dos conselheiros, segundo o artigo 68 dos estatutos do PSD - exige o voto favorável da maioria absoluta dos membros presentes e "implica a demissão da Comissão Política".

"A aprovação de uma moção de censura à Comissão Política Nacional determina a convocação do Congresso Nacional no prazo máximo de 120 dias", referem ainda os estatutos do partido.

Saliente-se que o anúncio de Luís Montenegro acontece quando o presidente do PSD, Rui Rio, está prestes a completar um ano à frente do partido - foi eleito em 13 de janeiro contra Pedro Santana Lopes - e quando ainda falta outro para completar o seu mandato.

[Notícia atualizada às 17h30]

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