Afegãos só puderam trazer uma das mulheres? "Deixa-me indignada, doente"

Ana Gomes criticou o Presidente da República e o ministro da Defesa por terem dito que Portugal "saiu de cabeça erguida" do Afeganistão. "Ninguém sai de cabeça erguida do que se está a passar", salientou a socialista.

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Notícias ao Minuto
30/08/2021 09:10 ‧ 30/08/2021 por Notícias ao Minuto

Política

Ana Gomes

A antiga diplomata Ana Gomes criticou, na noite deste domingo, na SIC Notícias, Marcelo Rebelo de Sousa e João Gomes Cravinho, por terem dito que Portugal saiu "de cabeça erguida" do Afeganistão.

Para a socialista, "ninguém sai de cabeça erguida do que se está a passar" e Portugal devia ter feito muito mais para ajudar os afegãos que durante anos trabalharam para Portugal como intérpretes e tradutores.

"Ver o Presidente da República e o ministro da Defesa muito contentinhos e a dizer que Portugal saiu de cabeça erguida. Ninguém sai de cabeça erguida! Ninguém sai de cabeça erguida do que se está a passar! Convém que tenhamos essa noção", salientou Ana Gomes, relembrando que o Governo invocou um critério da NATO para defender que eventuais refugiados polígamos só poderiam trazer uma mulher para Portugal.

"Ainda mais me chocou que Portugal estava a pôr condições para ir buscar afegãos. Como é normal e legal no Afeganistão, como em muitas partes do mundo, há casamentos poligâmicos. Aliás, muitas vezes isso é um esquema de proteger mulheres nestas regiões. Mulheres que ficaram sem marido e que ficam à guarda do cunhado, etc. Não é só esse tipo de situações, mas pensar que Portugal pode ter posto uma condicionalidade que impediu muitas das pessoas que estavam para vir, porque, obviamente essas pessoas não se vão separar das famílias e não vão discriminar as suas mulheres e os seus filhos, deixa-me indignada, deixa-me doente", disse a antiga candidata a Presidente da República.

Perante isto, Ana Gomes espera que esta situação seja "rapidamente corrigida". "Espero que se vá buscar todas essas pessoas. Muitos deles terão dificuldades para chegar ao aeroporto, mas temos de os trazer e abrir as portas aos refugiados", vincou.

Ainda sobre o mesmo tema, Ana Gomes afirmou que Portugal tem condições para "acolher refugiados", apenas tem de se "organizar" para que eles aprendam rapidamente "português para se integrarem" e tenham "o reconhecimento das suas habilitações" para que possam trabalhar. "Há muitas coisas em que podemos fazer muito mais e melhor e isto precisa de ser devidamente organizado e até hoje não foi coordenado", atirou.

Apesar da crítica às palavras de Marcelo e de Gomes Cravinho, Ana Gomes reconheceu que Portugal fez bem em enviar "quatro militares portugueses juntamente com Espanha para ir buscar pessoas" ao Afeganistão, relembrando que estes não são "refugiados tipo". "São pessoas que trabalharam connosco. Foram nossos empregados, tradutores, etc., em relação aos quais nós temos ainda deveres mais acrescidos", fez sobressair.

Leia Também: Portugueses fizeram "tudo o que estava ao alcance" para cumprir missão

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