O deputado único do Livre, Rui Tavares, explicou, na terça-feira, num espaço de comentário da CNN Portugal, as "narrativas" que o presidente russo, Vladimir Putin, utiliza para justificar a "perenidade" do seu "império". Para fazer isso mesmo, recorreu a uma explicação histórica.
"As narrativas fazem parte das justificações que nós damos às nossas nações, aos nossos Estados ou aos Impérios para existirem", começou por dizer o dirigente do Livre, ao dar conta de que a Rússia é uma "nação de extensão imperial". Uma nação que começou por ser conhecida pelo novo de "império russo" e que, depois, se "metamorfoseou", tendo passado a dar pelo nome de União Soviética.
Para conseguir manter "aquele conjunto enorme, pluricontinental, de um país que tem 12 fusos horários e que vai desde a Europa até ao Japão", referiu Rui Tavares, as elites da liderança russa têm tido a necessidade de criar essa tal "narrativa" justificativa. "Essa narrativa foi, no tempo do império russo, a ideia de conseguir ser a 'Terceira Roma'", sucedendo à própria Roma do "Império Romano" e a Constantinopla, do "Império Otomano".
"Moscovo era a 'Terceira Roma', protetora dos ortodoxos, que desejava chegar até Constantinopla ou até Jerusalém e, portanto, ser um Império justificado por essa história longa de vários milénios", prossegui o deputado único do Livre.
Já no tempo da União Soviética, as elites russas justificaram a sua posição imperialista com base na ideia de "substituir os velhos Impérios e nações por um novo tipo de Estado, baseado na solidariedade de classe, e que iria liderar uma revolução mundial socialista".
Mais recentemente, já no tempo da liderança de Vladimir Putin, a justificação para a "perenidade de um Império" é outra: a "narrativa anti-nazi". Rui Tavares explicou que o que baseia este imperialismo russo é a ideia, "na narrativa de Putin", de que "foi a Rússia que salvou o mundo do nazismo" e que o "derrotou". "Não é uma narrativa completamente errada, a Rússia fez parte dos aliados", apontou ainda o líder do Livre.
Embora isso nem "sempre" tenha sido assim, na medida em que o país foi "aliado da Alemanha, por exemplo, na partição da Polónia". Esta trata-se, assim, da "grande justificação histórica para a necessidade de ter um regime autoritário no Kremlin", concluiu.
Olhando para a realidade da Rússia nos "últimos 20 anos", e mesmo com "todo o dinheiro" que o país adquiriu "por causa dos combustíveis fósseis", Rui Tavares apontou que "Putin não tornou a Rússia [...] conhecida nem por nova tecnologia, nem por avanços científicos, nem por grandes conquistas desportivas, a não ser aquelas que, em boa parte, foram feitas com recurso a doping".
"E portanto o que há? Há potência nuclear, há um grande exército. E há este sonho, esta necessidade, de cumprir com um desígnio territorial de ter outros países à volta cuja soberania vale menos do que a soberania da Rússia", prosseguiu ainda o deputado do Livre. Para que tal seja feito, a "justificação" não pode ser a de que o país "quer" e "merece" conquistar, por exemplo, a Ucrânia.
Rui Tavares disse que a Rússia precisa, assim, de ter um "lado positivo para vender" ao povo russo, de forma a que ele apoie as suas ações. Para os "anti-imperialistas antiamericanos", a ideia de que os russos são "o contraponto dos americanos". Para os "setores mais reacionários, mais nacional-populistas", a narrativa de que a Rússia é a "defensora do cristianismo, dos valores tradicionais, da família". Para os restantes, de que são os "antinazis por excelência".
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