Santos Silva? "Chega não é único que se queixa de atropelos ao regimento"

Chega afirma que Marcelo é o único com autoridade política para intervir e diz ter a perceção de que o Presidente da República foi "recetivo" aos argumentos do partido e irá intervir "discretamente".

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Carmen Guilherme
29/07/2022 16:24 ‧ 29/07/2022 por Carmen Guilherme

Política

CHEGA

O líder do Chega, André Ventura, que esta sexta-feira foi recebido em Belém pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, indicou que chamou "a atenção" do chefe de Estado para o "comportamento" do presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva.

Ventura indicou que Santos Silva elegeu o Chega "como alvo" e acusa-o de "atropelar sistematicamente o regimento" do Parlamento, uma opinião que, segundo o político, é partilhada por outros partidos.

Em declarações aos jornalistas, após o encontro, o presidente do Chega disse que o objetivo desta audiência foi apresentar as "razões, argumentos" pela ação do partido ao abandonar o plenário e, por outro lado, apresentar os "motivos de crítica e censura" a Santos Silva.

"O Chega apresentou argumentos claros ao senhor Presidente da República, chamando a atenção que o que está em causa não é apenas um comportamento pontual, circunscrito, mas é uma atitude recorrente intencional, racional e decidida, deliberada, de eleger o Chega como alvo e de sistematicamente atropelar o regimento da Assembleia da República", disse. 

Mas Ventura foi mais longe e afirmou mesmo que o seu partido não é o "único" a queixar-se.

"Chamámos à atenção, de que não sendo o Chega o único que se queixa dos atropelos sistemáticos ao regimento, com base na maioria absoluta que Santos Silva sente que tem a a apoiá-lo, têm sido constantes os atropelos à liberdade,  à ação dos partidos e à democracia parlamentar", acrescentou.

O Chega chamou também à atenção de Marcelo para algo que considera "inédito". "Desde o início do parlamentarismo português, e é provavelmente preciso recuar mais de 100 anos atrás, para termos um presidente da AR a comentar uma iniciativa legislativa de um partido. Provavelmente também é preciso recuarmos mais de 100 anos atrás para termos um presidente da AR a interromper a intervenção de um deputado e líder de um partido e a fazer comentários sobre essa intervenção. E, provavelmente, é preciso recuar 500 anos atrás para encontrar algum órgão de soberania que rejeita uma censura sobre ele próprio", criticou.

Segundo André Ventura, o Presidente da República é o único que tem "autoridade política para chamar à atenção" Santos Silva e considerou que Marcelo foi "recetivo" aos argumentos do Chega.

"Tudo isto leva a que tenhamos dito ao Presidente da República que compreendemos a sua necessidade de recato institucional e de conciliador (…) mas que só ele pode neste momento ter a autoridade política de chamar a atenção de Augusto Santos Silva", disse.

"Parece-nos que o Presidente da República foi recetivo aos nossos argumentos, independentemente das ações que venha a tomar. Parece-nos que o Presidente da República foi sensível à situação de maioria absoluta e possível mordaça sobre a democracia que o pais enfrenta e parece-nos que o Presidente da República, como mais alta figura do Estado, foi sensível aos argumentos de cerceamento constante da liberdade", continuou.

Ventura reforçou que os constitucionalistas e juristas que se pronunciaram e "até líderes de outros partidos disseram que Santos Silva esteve mal".

"Mas só há uma autoridade política capaz de chamar a atenção verdadeiramente de Santos Silva para que o conflito não passe de um conflito em dois ou três meses para um conflito permanente", reiterou, sublinhando que espera que Marcelo, ainda que "de forma discreta", possa intervir junto de Santos Silva.

"Parece-me evidente que o que está aqui em causa são ambições pessoais de Augusto Santos Silva", acrescentou.

O líder do Chega disse entender que Marcelo "não possa comprar uma guerra direta" com o presidente do Parlamento e, por isso, o partido ficou com a "perceção" de que o chefe de Estado irá intervir como "sabe, discretamente, nos bastidores".

"Este ambiente não pode continuar", reforçou, repetindo que "as queixas que existem não são exclusivas do Chega" e que "há vários partidos a queixar-se".

[Notícia atualizada às 17h09]

Leia Também: AR pediu parecer sobre resolução do Chega "pelo precedente que cria"

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