União Europeia sem capacidade para ser olhada e agir como potência

A capacidade da União Europeia ser olhada e agir como uma potência foi hoje questionada por oradores nacionais e estrangeiros numa conferência em Lisboa que abordou as ameaças de segurança no contexto da guerra na Ucrânia, para a qual não veem um fim.

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Lusa
13/10/2022 15:47 ‧ 13/10/2022 por Lusa

Política

Luís Amado

"Não vejo a Europa como uma potência. A grande potência europeia são os Estados Unidos" afirmou o ex-ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros Luís Amado, numa afirmação recebida com aplausos da audiência nas Conferências de Lisboa, a decorrer na Fundação Gulbenkian, da responsabilidade da associação Clube de Lisboa.

Olhando atualmente para as potências europeias, a Alemanha, a França e o Reino Unido, "francamente vejo como muita dificuldade que a União Europeia possa ser olhada como uma potência" afirmou o agora consultor, responsabilizando a "muita negligência estratégica" que houve.

Alertou, contudo, que a garantia de segurança que os EUA dão à Europa não será fácil de manter, visão partilhada pelos outros oradores, antiga secretária de Estado da Defesa Ana Santos Pinto, o diretor do Conselho Europeu de Relações Externas, Mark Leonard, e a diretora da informação da agência Lusa, Luís Meireles.

"A Europa é um projeto de paz que agora está condicionado pela guerra militar e pela guerra económica, que vai ter um impacto desastroso nos equilíbrios sociais", declarou ainda Luis Amado no painel com o tema "Ameaças de Segurança: pode a União Europeia ser olhada como uma potência.

"Não sou pessimista em relação ao futuro. Acho que a Europa tem um potencial de experiência que faz falta ao mundo (...) Na próxima década, a Europa, acredito, vai renascer se a Alemanha for capaz de se reconstruir com uma potência europeia, se a França sobreviver aos demónios nacionalistas", afirmou, apontando ainda as dificuldades que o Reino Unido terá que ultrapassar, como a atual crise da sua moeda.

Ana Santos Pinto avisou, pegando na ideia de que os Estados Unidos são para já a potência (defensiva) da Europa, que o serão "cada vez menos" no novo quadro geopolítico.

Alertou ainda que com a guerra "muda a compreensão por parte de uma sociedade europeia de que o seu modelo de qualidade de vida está completamente posto em causa", e para as perturbações sociais e politicas que isso pode ter.

Mark Leonard afirmou, por seu turno que, a questão "nem é tanto se a Europa é uma potência, mas mais que tipo de potência será depois disto" e depois de enfrentar uma económica, uma crise de migrações e crise de populismo.

"Sou um pouco pessimista quanto às tendências políticas dos países europeus", afirmou o diretor da Conselho Europeu de Relações Externas.

"Também não vejo a Europa como uma potência", disse Luísa Meireles, que participou como oradora e moderadora no debate, deixando a mensagem da necessidade de "forte diplomacia" no atual contexto de uma guerra para a qual os oradores não vislumbram uma possibilidade de solução.

"Concordo com o Mark Leonard de que vamos na melhor das hipóteses ter um conflito 'congelado' (...) e uma cortina de ferro" a seguir, disse o antigo ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros a fechar o debate.

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