Depois de um período marcado por sucessos eleitorais, surgiu a surpresa no seio da Iniciativa Liberal (IL). João Cotrim de Figueiredo viria a anunciar a demissão do cargo de presidente daquele que é o quarto maior partido com maior representação parlamentar, abrindo espaço a que novos rostos se chegassem à frente para ‘assumir as rédeas’.
Numa altura em que se caminha a passos largos para a convenção eletiva da Iniciativa Liberal, marcada para os próximos dias 21 e 22 de janeiro, continuam a ser apenas dois os candidatos conhecidos à liderança dos liberais. O primeiro a anunciar as suas intenções foi o deputado Rui Rocha, cuja candidatura conta, nomeadamente, com o apoio do líder cessante. Do outro lado está a também parlamentar Carla Castro.
No Vozes ao Minuto desta sexta-feira, Rui Rocha deixou claro estar focado em apresentar “propostas que possam ser interessantes e desafiantes para os eleitores portugueses” residentes em todas as regiões do país, fazendo assim frente às críticas de quem tem vindo a acusar a Iniciativa Liberal de ser um partido com uma postura eminentemente ‘centralista’.
Em entrevista ao Notícias ao Minuto, o deputado explicou ainda que pretende, com a sua candidatura, ajudar a “fazer crescer a Iniciativa Liberal”, numa altura em que a “prioridade total” do partido é “liderar a oposição ao Partido Socialista (PS)”.
Queremos promover uma renovação que preserve tudo aquilo que são as forças essenciais da Iniciativa Liberal.
Estamos a pouco mais de um mês da convenção eletiva da Iniciativa Liberal, onde vai ser escolhido o novo líder do partido. É um dos candidatos a essa mesma liderança, à semelhança de Carla Castro. Por que razão decidiu avançar com esta candidatura?
O objetivo desta candidatura é fazer crescer a Iniciativa Liberal. Considero que tenho a motivação, a equipa certa para o fazer e, também, as propostas certas. Do ponto de vista da motivação, ela é enorme, quero muito assumir a liderança da Iniciativa Liberal. Por outro lado, posso dizer que a equipa que vou apresentar agora no sábado [para a Comissão Executiva] é uma equipa que tem cerca de 55% de pessoas que estavam na Comissão Executiva cessante e, desse ponto de vista, há aqui uma vontade de preservar a capacidade de concretizar a estratégia da Iniciativa Liberal que a Comissão Executiva cessante teve. Há aqui um misto entre uma continuidade e um preservar daquilo que são os pontos fortes da Iniciativa Liberal, que levaram ao sucesso eleitoral que temos conseguido afirmar, mas também um interpretar daquilo que são as circunstâncias atuais (a situação atual do país, o próprio momento do partido). Queremos, portanto, promover uma renovação que preserve tudo aquilo que são as forças essenciais da Iniciativa Liberal, mas que ao mesmo tempo permita uma renovação e algumas alterações. E, no fundo, que a Iniciativa Liberal, depois de 22 de janeiro, seja um partido ainda mais forte e mais capaz de alcançar o sucesso eleitoral.
Caso saia vencedor, quais serão as suas prioridades enquanto líder? Que medidas pretende tomar para levar a cabo essa mesma “renovação” do partido?
Algumas questões internas têm de ser melhoradas. Eu posso dar o exemplo de uma medida em concreto, porque preocupa-me muito que o partido consiga ser mais aberto e que haja uma maior possibilidade de participação e, também, uma maior atenção àquilo que é o próprio funcionamento interno do partido. Uma das medidas que quero implementar passa por uma reunião periódica entre mim, enquanto presidente da Iniciativa Liberal, e grupos de núcleos partidários. Ou seja, pretendo todos os meses juntar um grupo de núcleos, de uma determinada zona ou região, para debater com eles o que funciona bem no partido e o que funciona mal, ouvi-los sobre a política local, regional e nacional, e partilhar com eles, também, aquilo que é a visão do partido, os objetivos, as intenções, os problemas e as dificuldades. Ou seja, o próprio presidente do partido passa a ter uma linha de comunicação aberta com os núcleos, de forma a que possamos falar e ficar mais próximos uns dos outros. Para além disto, há certamente outras medidas de ajuste do funcionamento interno, mas este é um exemplo de que gosto particularmente.
É preciso novas que propostas capazes de fazer com que a Iniciativa Liberal possa falar com todo o território português
Falou-me de questões mais voltadas para uma certa renovação da dinâmica interna do partido. E no que diz respeito a medidas que possam ter um impacto mais direto nos eleitores?
Existe essa dimensão de reforço daquilo que é o partido na sua componente interna, para tornar o partido mais ágil, mais rápido e mais eficaz, e depois há um conjunto de propostas viradas para fora. A Iniciativa Liberal tem sido um partido conhecido por defender um desagravamento da carga fiscal, a desburocratização e a simplificação de processos, a liberdade de escolha na educação e na saúde, e eu diria que este é o núcleo essencial das propostas que a Iniciativa Liberal tem apresentado. Mas considero que, para a Iniciativa Liberal crescer, é preciso apresentar um conjunto de propostas adicionais, mantendo aquelas que já são parte do nosso grupo de propostas fundamentais. Falo aqui de quatro ou cinco propostas especialmente importantes direcionadas para problemas concretos dos portugueses: na habitação; na mobilidade e nos transportes; na eficiência dos serviços de saúde; na sustentabilidade da Segurança Social; e no que diz respeito a uma reforma do sistema eleitoral. Trata-se de alargar e de dar o mesmo ênfase a estas quatro ou cinco propostas, que são muito importantes e que dizem respeito a problemas concretos dos portugueses, para os quais nós temos de apresentar soluções, obviamente liberais, que possam fazer com que a Iniciativa Liberal possa falar com todo o território português: no interior, no litoral, no Norte, no Sul, nas Ilhas… Portanto, propostas que possam ser interessantes e desafiantes para os eleitores portugueses onde quer que eles estejam e independentemente do seu contexto.
No seguimento desta ideia, a verdade é que, nos últimos escrutínios, os apelos da Iniciativa Liberal acabariam por ser mais bem-sucedidos nas grandes cidades, essencialmente litorais, com a mensagem a ficar um pouco distante das regiões rurais, como ilustram os resultados eleitorais. Quando fala de propostas que possam interessar a todos os cidadãos, independentemente do seu contexto, a que se refere em concreto?
Há certos problemas que são mais regionais, outros que têm a ver mais com o interior. O que eu quero é que a Iniciativa Liberal tenha um conjunto de propostas liberais, mantendo aquelas que já tínhamos e que nos levaram ao sucesso eleitoral de janeiro de 2022, mas ao mesmo tempo reforçando-as de forma muito concreta. Disso é exemplo algumas propostas relativas ao ambiente, à agricultura e à questão da água. Isso vai permitir-nos falar com todo o território português. É dessa maneira que nós queremos manter o eleitorado que já conquistamos e continuar a crescer junto de novos eleitores. A estratégia é essa.
Mas haverá aqui, também, alguma tentativa de mudança de estratégia na forma como tentam fazer chegar a vossa mensagem a essas franjas da população que, até agora, ainda não estão tão familiarizadas com o liberalismo?
Eu diria que a Iniciativa Liberal continuará a ser um partido muito forte nas redes sociais, que contribuíram muito para o seu crescimento. Porém, estará também mais presente nos órgãos de comunicação social, na comunicação dita tradicional. Terá ainda, obviamente, a sua representação parlamentar, que é igualmente muito importante para fazer passar a mensagem da Iniciativa Liberal. Mas a isso acrescentaria algo que, pela dimensão do partido, não tem sido possível fazer, mas que agora já temos condições: que passa por uma presença muito forte no terreno, muito próxima dos portugueses. Aquilo que eu disse que gostava de fazer internamente, estar próximo dos membros e promover momentos de contacto e em que discutimos as questões do partido, isso é verdade, também, para os eleitores. A minha disponibilidade e a minha motivação é para estar bastante presente no território português, e isso significa quer em contactos com as populações, quer em visitas a instituições dos diferentes territórios, mas também, sempre que se justificar pela importância do tema, estar presente na rua.
E aí posso dar um exemplo muito concreto, que tem a ver com a questão da Revisão Constitucional que está neste momento a ser preparada e a ser discutida e que, no meu entendimento, traz um conjunto de perigos para as liberdades e garantias dos portugueses. Estou a falar concretamente das questões que estão presentes quer nos projetos de revisão do PS, quer do PSD, de limitação da liberdade de confinamentos sem prévia decisão judicial e sem intervenção da Assembleia da República. É um tema em que estamos a falar de assuntos de tal gravidade que, na minha perspetiva, se justifica que a Iniciativa Liberal faça sobre o tema ações de rua, por um lado, manifestando a sua oposição clara sobre estas intenções do PS e do PSD, e que recorra, também, a outro tipo de mecanismos que estão disponíveis, quer para cidadãos, quer individualmente. A Iniciativa Liberal pode promover também, se a Revisão Constitucional vier mesmo a ser aprovada, que se possa ponderar e se possa avançar, nos meios próprios, com queixas para o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos. Aí está um tema em que a Iniciativa Liberal explorará todos os canais, todas as vias ao seu alcance, incluindo, enquanto cidadãos, este tipo de queixas junto do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.
É uma lista que tem representação territorial de Braga, de Bragança, de Viseu, de Castelo Branco, de Faro, dos Açores e da Madeira.
É já este sábado que apresenta a sua lista à Comissão Executiva do Partido. Já começou a ser noticiado que esta se trata de uma lista com “representação territorial alargada” e novos pelouros. O que nos pode dizer sobre o que vai ser anunciado nesse momento e sobre o que motivou essas apostas?
Essa questão da representação territorial é verdadeira e posso dizer que, como é normal neste tipo de listas, haverá um conjunto de membros da Comissão Executiva efetivos e, depois, um conjunto de membros suplentes. E eu posso dizer que, olhando para a totalidade da lista e considerando, tanto os efetivos, como os suplentes, é uma lista que tem representação territorial de Braga, de Bragança, de Viseu, de Castelo Branco, de Faro, dos Açores e da Madeira. Tem, portanto, uma cobertura territorial muito ampla e isso traduz, precisamente, essa preocupação de chegarmos aos diferentes territórios do país. Essa mesma representação na Comissão Executiva também traduz a aposta em estarmos presentes em todo o território com propostas muito concretas e traz-nos a possibilidade de, também, conhecermos os problemas específicos dos portugueses das diferentes regiões, incluindo as regiões autónomas, de Norte a Sul, do litoral ao interior.
Além do mais, disse aqui também que tinha a intenção de fazer algumas alterações internas, para tornar o partido mais ágil e eficiente, e esta Comissão Executiva reflete essa preocupação e essa vontade. Posso dizer que vamos ter um novo pelouro de Comunicação Interna, e um outro de ligação entre a Assembleia da República e a Comissão Executiva, permitindo que os temas mais importantes possam fluir entre o Parlamento e a Comissão Executiva e possam depois, também, chegar aos membros e aos núcleos da Iniciativa Liberal. Nós vamos ainda reforçar a nossa área de conhecimento e investigação e teremos outros pelouros destinados a estudar as questões das autarquias e das regiões autónomas, para que possamos, depois, partilhar com os núcleos espalhados por todo o território informação relativa à organização e política local. E vamos também continuar a apostar, através de pelouros de expansão territorial, no crescimento da Iniciativa Liberal. Estes são alguns exemplos de pelouros que temos previstos e que dão resposta a essa necessidade de fazer algumas alterações internas e de tornar o partido mais ágil e mais rápido.
Para além de uma certa necessidade de renovação, deixou também aqui clara a vontade de manter uma certa continuidade face ao caminho seguido pela Comissão Executiva que agora cessa funções. E o facto é que, mal anunciou as suas intenções de concorrer à liderança do partido, o líder cessante do partido, João Cotrim de Figueiredo, informou que ia apoiar a sua candidatura. Que tipo de continuidade estará aqui em causa?
É para mim um enorme orgulho ter o apoio do João Cotrim de Figueiredo, dos dois vice-presidentes cessantes, de 70 ou 80% da Comissão Executiva cessante, e de todos os deputados que até à data se pronunciaram sobre estas eleições. Estes são apoios que eu considero muito importantes e que me deixam com muito orgulho, pela confiança dada por estas pessoas que todos os dias trabalham comigo e que entendem que eu mereço levar avante esta candidatura.
Mas eu diria que há uma perspetiva de continuidade daquilo que faz sentido e, portanto, de todas aquelas que são as forças da Iniciativa Liberal. Quero preservar toda a parte que entendo que contribuiu para o sucesso que tivemos, obviamente. Mas a própria composição da Comissão Executiva e a criação destes e de outros pelouros que estão previstos pretendem traduzir, também, essa necessidade de novidade. É um misto de continuidade naquilo em que somos fortes, e de renovação naquilo em que o partido precisa de novidade e de alterações.
Posso oferecer ao partido uma visão de país muito distinta daquela que existe hoje nos vários partidos do espectro político.
Como vê a outra candidatura conhecida até ao momento, a de Carla Castro? Quais são os principais pontos distintivos das duas candidaturas que estão em cima da mesa?
Não posso pronunciar-me sobre as propostas da outra candidatura, pois não as conhecemos ainda, portanto posso apenas pronunciar-me sobre aquilo que posso oferecer ao partido. E eu diria que posso oferecer ao partido uma visão de país muito distinta daquela que existe hoje nos vários partidos do espectro político. Uma visão de um país diferente, de um país onde o trabalho, o esforço, a exigência e a recompensa do mérito são aspetos fundamentais. É esse o país que eu pretendo que a Iniciativa Liberal seja o motor.
Isto começando pelas propostas concretas, que passam por essa mesma visão de termos ideias que nos permitam falar para o país todo. Ou seja, queremos fazer crescer a Iniciativa Liberal porque temos uma proposta para todos os portugueses, e em que eles poderão encontrar uma solução para os seus problemas. E depois temos uma equipa que preserva um conjunto de pessoas que sabem fazer crescer a Iniciativa Liberal, que são responsáveis pelo sucesso do partido, e que são agora complementadas por outras pessoas que tornarão o partido mais forte. Esta conjugação de pessoas que foram responsáveis pelo sucesso da Iniciativa Liberal, com os reforços que vamos introduzir na Comissão Executiva, faz-me acreditar que nós temos uma proposta muito forte para o partido e, como tal, também para o país.
Crê que o surgimento de candidaturas distintas à liderança do partido, depois de meses em que o mesmo estava a conseguir cumprir alguns objetivos eleitorais, não contribui para um maior divisionismo interno na Iniciativa Liberal?
Eu acho que estas eleições internas, pelo contrário, são uma extraordinária oportunidade para o partido. Existem duas candidaturas, até ver, podem ainda surgir mais, e isso cria, de facto, uma oportunidade muito importante para a Iniciativa Liberal. É um momento para discutir ideias e opções estratégicas e isso é muito bom para o partido. O partido terá, depois, uma convenção plenária, onde será decidido o novo líder. Será uma convenção plenária muito participada e, até lá, os candidatos poderão apresentar as suas ideias, terão exposição mediática, e poderão ganhar o interesse de muitos portugueses que ainda não conhecem a Iniciativa Liberal. Portanto, na minha perspetiva, este processo eleitoral é uma muito importante oportunidade de crescimento para o partido. Obviamente que, depois das eleições, a tarefa do novo líder passará por abrir a porta a todos os militantes da Iniciativa Liberal que queiram participar nesse processo de crescimento e de afirmação do partido. Da minha parte, existe esse compromisso total de envolver todos aqueles que queiram participar neste processo.
Acredita, portanto, que o partido será capaz de continuar a manter a sua tendência de crescimento, apesar deste momento de maior ‘turbulência’ interna?
Eu diria que o partido tem todas as condições necessárias, a partir do dia 23 de janeiro, para continuar a sua trajetória de crescimento. Acredito muito nas ideias apresentadas por via da minha candidatura, na equipa que temos, e na sua capacidade de executar uma estratégia de crescimento para o partido. E, portanto, acredito muito que teremos uma oportunidade extraordinária de crescimento. Eu tenho uma enorme confiança na capacidade do partido, nos seus membros, nas pessoas do partido que estão em órgãos de representação, nas pessoas que não estão em órgãos de representação, no grupo parlamentar e no gabinete parlamentar. Logo, diria que o partido tem um potencial enorme e que acredito que o dia 23 de janeiro será o primeiro dia do crescimento renovado e reforçado da Iniciativa Liberal. E acrescentaria ainda que há um espaço muito amplo para a afirmação dos ideais da Iniciativa Liberal no eleitorado português, e que a minha equipa e as nossas ideias vão ser fundamentais para afirmar esse crescimento.
A Iniciativa Liberal assegurará sempre a sua total independência face a outros interesses partidários.
Defendeu recentemente, num encontro com membros de uma das listas candidatas ao Conselho Nacional, que a Iniciativa Liberal deve, no futuro, ponderar “negociar com o PSD um entendimento pós-eleitoral”, caso surja a oportunidade. O que o leva a defender tal posição e em que se materializaria tal entendimento?
Isso seria uma hipótese, algo que poderá existir no futuro. De momento, a prioridade da Iniciativa Liberal passa por afirmar a sua posição num combate claro àquilo que é a governação socialista. Essa é a prioridade total da Iniciativa Liberal: ser uma oposição muito clara, muito frontal e, nesse sentido, liderar a oposição ao PS. Esse é o propósito estratégico da Iniciativa Liberal.
Num cenário hipotético futuro, em que se chegue a um momento em que há a possibilidade de criar uma alternativa governativa ao PS, a prioridade que a Iniciativa Liberal terá de assumir passará por ser coerente com os seus princípios e por respeitar a confiança dos eleitores que votaram ou que votarem na Iniciativa Liberal. E, portanto, o partido combaterá sempre este Governo e este PS, e assegurará sempre a sua total independência face a outros interesses partidários, a interesses de outra natureza que possam estar presentes. Ou seja, assumo o compromisso de que qualquer solução de viabilização de alternativas de Governo será sempre feita no respeito integral pela confiança dos membros e dos eleitores da Iniciativa Liberal. Seremos, portanto, intransigentes na defesa desses interesses, e asseguraremos sempre, também, para qualquer tipo de entendimento, um compromisso escrito, detalhado, sobre objetivos em áreas essenciais, e com um calendário de implementação.
Traçar uma ‘linha vermelha’ face à extrema-direita, nesse sentido, é um ponto que tem também vindo a defender no âmbito da estratégia a adotar pelo partido. Define essa necessidade, também, para cumprir essa premissa de “respeito integral” pela confiança de membros e eleitores?
Há duas questões relativamente a esse ponto. Por um lado, estamos a falar de uma questão de respeito pela dignidade humana. E a Iniciativa Liberal, sendo um partido que defende os indivíduos, estará sempre do lado oposto aos ataques, sejam eles de que natureza forem, à dignidade humana. Essa é uma primeira linha clara que nós impomos e que eu imporei, também, na gestão do partido. O segundo ponto diz respeito à própria visão de sociedade. E a visão de sociedade da extrema-direita é uma visão cada vez mais estatista. A Iniciativa Liberal não têm essa visão estatista, têm a visão oposta. Tem a visão da iniciativa privada, a visão de uma sociedade civil forte, e de um Estado que cumpre as suas obrigações, obviamente, mas que não asfixia a sociedade. A visão dessa direita mais extremada é uma visão que, por um lado, não respeita princípios fundamentais da dignidade humana, e que, por outro lado, tem uma visão estatista que é completamente incompatível com a visão da Iniciativa Liberal.
Outra ‘linha vermelha’ que também traça, como já falámos, é face ao PS. Numa altura em que voltamos a viver uma nova crise social e económica, como avalia a atuação do Governo?
Eu faço a análise de um Governo que, apesar de ter apenas oito meses no cargo e de ter uma maioria absoluta, está completamente esgotado. Aquilo que mais caracteriza o Governo de António Costa neste momento é uma trapalhada constante nos mais diversos temas. Ainda agora tivemos uma pequena remodelação, ao nível de secretários de Estado, mas o que é incrível é que os secretários de Estado que acabaram por sair, que são do Ministério da Economia, são os mesmos que criticaram a visão do ministro da Economia, ainda que em alinhamento com aquilo que é a opinião do próprio primeiro-ministro e do resto do Governo. É uma trapalhada constante, uma total falta de coordenação. Não é um Governo, mas um ‘desGoverno’. E é um ‘desGoverno’ esgotado, pois não há qualquer ideia de reforma do país, qualquer solução para pôr o país a crescer. Não há qualquer visão de futuro que o Governo de António Costa possa trazer neste momento, é totalmente incapaz de o fazer.
E há depois a questão do crescimento, que é fundamental para Portugal. Todos os problemas essenciais do país, neste momento, estão dependentes do crescimento económico. Nós só teremos melhores salários se houver crescimento económico, e o mesmo é válido para a sustentabilidade da Segurança Social e para a inversão da tendência demográfica. Isto porque só aí conseguiremos, por um lado, que os nossos jovens queiram ficar em Portugal, travando a saída massiva de jovens para o estrangeiro, e teremos ainda a possibilidade de outras pessoas poderem interessar-se em vir trabalhar para Portugal e em contribuir para o crescimento do país. Com isto quero dizer que o crescimento económico é central para o futuro do país, bem como para o presente, mas o Governo de António Costa não sabe promovê-lo, pelo contrário. Acumulam-se as medidas estatistas que asfixiam a sociedade, que impedem o seu crescimento e que, de alguma maneira, acabam por ter uma consequência muito negativa.
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