O deputado socialista Sérgio Sousa Pinto considerou que as palavras do antigo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, face ao pacote do Governo 'Mais Habitação', tiveram um "impacto" diferente, em comparação com a posição veiculada pelo atual chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa.
Isto porque, na ótica do socialista, num espaço de comentário na CNN Portugal, "Cavaco Silva, como é mais contido nas suas intervenções no espaço público, quando fala, é ouvido com outra atenção".
Apesar disso, o parlamentar fez um reparo: "Não diria que a voz de Cavaco Silva tem mais impacto público que a do Presidente da República. Mas a força de uma intervenção pública está em correlação com a gestão que se faz do silêncio".
Na perspetiva do deputado, a "demonstração desta teoria aconteceu esta semana". Se, inicialmente, o "Presidente da República tinha dito que, em matéria de pacote de habitação, estávamos diante de um melão, o qual só após aberto se saberia se era bom ou não", isso veio, depois, a mudar assim que o ex-chefe de Estado apresentou a sua posição sobre o tema.
"O professor Cavaco Silva veio dizer que estamos perante o primeiro melão que não precisa de ser aberto para saber que é mau, porque não tem a potencialidade de ser bom. Desconsidera uma série de aspetos que são essenciais - a mobilização dos capitais privados, a mobilização da iniciativa privada, a mobilização da eficiência privada, que são agentes indispensáveis para aumentar a oferta", referiu ainda.
Perante esta posição, elaborou Sousa Pinto, o "professor Marcelo Rebelo de Sousa, que é um político muito sensível aos ventos dominantes, percebeu que existia uma nova configuração que exigia um ajustamento". Consequentemente, veio, assim, "esta semana, dizer que afinal não precisava que o melão fosse propriamente aberto, porque ele próprio suspeitava que o mesmo não conseguia dar resposta aos problemas do país em matéria de habitação".
De recordar que o antigo Presidente da República teceu, no contexto do encerramento da conferência '30 Anos PER: génese e impacto nos territórios', duras críticas ao Governo em matérias de habitação e, nomeadamente, ao novo pacote destinado a combater a crise no setor. Na sua ótica, o 'Mais Habitação' tem apenas um ponto positivo: o fim dos 'vistos gold'.
Entretanto, Marcelo, que tinha inicialmente dito que precisava de entender mais a fundo as propostas que compunham este pacote para se posicionar, referiu-se recentemente ao mesmo como uma "aparente solução inexequível". E disse, ainda: "Tal como está concebido, logo à partida, o pacote da habitação é inoperacional".
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