Subscrito pelos deputados Rui Tavares, do Livre, e Henrique Brilhante Dias, do PS, o documento visa igualmente recomendar ao Governo "que estude a forma como o projeto" de constituição da biblioteca "possa ser delineado em termos densificados, de modo a obter a necessária consagração e financiamento europeu".
Prevê igualmente que a comissão parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto estabeleça diálogo com entidades do setor privado e da Administração Pública e apresente periodicamente relatórios de progresso ao presidente da Assembleia da República.
O projeto de resolução deu entrada na Assembleia da República no dia em que se assinalam cem anos sobre o nascimento do professor e ensaísta Eduardo Lourenço, autor de "Heterodoxias" e "O Labirinto da Saudade".
Um projeto de resolução semelhante dará também entrada na Câmara Municipal de Lisboa, dado a criação da Biblioteca Eduardo Lourenço ter obtido concordância pelo seu atual presidente, Carlos Moedas, quando era ainda administrador da Fundação Calouste Gulbenkian, e ser também uma das propostas constantes da candidatura autárquica da coligação "Novos Tempos Lisboa", que Carlos Moedas liderava, disse hoje Rui Tavares à agência Lusa.
Na fundamentação do projeto de resolução, os deputados do PS e do Livre, Eurico Brilhante Dias e Rui Tavares, respetivamente, sustentam que a instituição contaria com um acervo de livros em todos os suportes e poderiam ser também "lugar de encontro, de disponibilização de espaços de estudo, de estúdios para gravar 'podcasts' ou vídeos, de salas multimédia onde ter acesso à comunicação social de todo o mundo, de espaços de debate e de animação cultural permanente".
A União Europeia "não tem ainda a instituição de uma Biblioteca Europeia, sediada em cada país da União e ligada em rede a todas as outras, lugar privilegiado para podermos realizar algo como a Convenção sobre o Futuro da Europa", escrevem os deputados, estabelecendo o contraste com os Estados Unidos, "a sua Biblioteca do Congresso, mais as bibliotecas presidenciais que cada ocupante da Casa Branca tradicionalmente funda após o seu mandato".
E para essa biblioteca europeia, lê-se na introdução ao projeto de resolução, "não haveria nome melhor" do que o de Eduardo Lourenço, "porque nenhum outro pensador da nossa modernidade refletiu melhor sobre a imbricação entre os tempos passados, presentes e futuros de Portugal e da Europa".
E não haveria também "homenagem melhor, não apenas ao Eduardo Lourenço pensador, mas sobretudo ao Eduardo Lourenço exemplo humano de generosidade e interesse pelos outros, do que ver milhares de pessoas de todas as idades a experimentar quotidianamente na biblioteca", sustentam os proponentes, acrescentando a oportunidade da criação da biblioteca numa altura em que se comemora o centenário de nascimento do ensaísta e filósofo.
"Neste momento em que se prepara a recuperação e resiliência pós-pandemia, sabemos que essa recuperação passa o seu nome, no Portugal democrático, o tipo de liberdade que [Eduardo Lourenço] experimentou ao sair do Portugal ditatorial, e o fascínio de haver um lugar onde o nosso interesse pode partir a todo o momento em todas as direções da literatura à ciência e às artes e ao pensamento, nosso e dos outros".
Para os proponentes, a Biblioteca Europeia Eduardo Lourenço impõe-se assim como "uma Casa (...) aberta ao mundo como só Eduardo Lourenço conseguiu articular esses três planos e três escalas: portuguesa, europeia e mundial. Que tem vínculos afetivos com a lusofonia, o Brasil e a Baía onde ele viveu, com as Américas, com África e o Oriente.
Eduardo Lourenço nasceu em 23 de maio de 1923, em São Pedro do Rio Seco, distrito da Guarda, e morreu em Lisboa, em 01 de dezembro de 2020, com 97 anos.
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