"Carismática", "sensível" e "irreverente". Políticos evocam Odete Santos

A antiga deputada e dirigente comunista morreu aos 82 anos. Da Esquerda à Direita, políticos portugueses recordam a "notável" e "grande mulher" que foi Odete Santos.

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© Gustavo Bom / Global Imagens

Notícias ao Minuto com Lusa
27/12/2023 17:49 ‧ 27/12/2023 por Notícias ao Minuto com Lusa

Política

Odete Santos

Morreu, aos 82 anos, a antiga deputada e dirigente comunista Odete Santos, segundo anunciou o Secretariado do Comité Central do Partido Comunista Português (PCP), esta quarta-feira. Do partido ao Presidente da República, foram várias as personalidades que lamentaram a morte da histórica comunista, "reconhecida pela irreverência e energia com que defendia os valores em que acreditava".

Em comunicado, o Secretariado do Comité Central do PCP afirmou que Odete Santos se destacou "pelo seu compromisso com os trabalhadores e o povo, com uma particular ligação com a juventude, afirmando a sua notável capacidade, profundidade de análise, solidariedade, dedicação, frontalidade, coragem e força de intervenção".

Já o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou que "foi com profundo pesar" que tomou conhecimento da morte da comunista, que descreveu como uma "das deputadas mais carismáticas da Assembleia da República", sendo "reconhecida por todas as bancadas pela coerência e coragem com que assumia posições, bem como pela irreverência e energia com que defendia os valores em que acreditava", nomeadamente na "defesa das minorias, na proteção dos direitos humanos, dos trabalhadores e das mulheres".

O primeiro-ministro, António Costa, quis recordar "a competência, a acutilância e o humor" da "notável parlamentar que fica na memória". Numa nota, divulgada nas redes sociais, fez ainda questão de apresentar as suas condolências "aos amigos e familiares" de Odete Santos.

O ex-líder do PCP, Jerónimo de Sousa, descreveu a antiga deputada como uma "mulher de combate que sempre procurou identificar-se e lutar por grandes causas sociais", nomeadamente os "direitos laborais das mulheres".

"Foi uma mulher que sabia do que falava, com uma grande capacidade de intervenção, mas sempre com respeito pelo adversário", disse, acrescentando tratar-se de uma "perda significativa".

Já o antecessor de Jerónimo de Sousa, Carlos Carvalhas, afirmou que Odete Santos "não deixou ninguém indiferente". "Independentemente do quadrante político, creio que todos a recordarão como uma mulher de frontalidade, de veemência, de combatividade, de grande alegria, de espetacularidade", disse, referindo-se à sua "intervenção política" e às "suas declamações", em declarações à RTP3.

Já o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, recorreu à rede social X (antigo Twitter) para lamentar a morte da "destacada deputada" e apresentar "condolências à sua família e ao Grupo Parlamentar do PCP".

A ainda ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, lamentou também a morte da antiga deputada e recordou o seu "profundo contributo" para a "construção da democracia".

Numa nota de pesar enviada à comunicação social, Ana Catarina Mendes referiu que "enquanto ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, é incontornável recordar hoje o profundo contributo de Odete Santos para a construção da democracia e o brilhante papel que desempenhou enquanto deputada à Assembleia da República durante quase três décadas".

O Partido Socialista (PS) assinalou que a comunista se manifestou desde cedo "contra a ditadura do Estado Novo" e que desempenhou "um papel de destaque na construção do regime democrático português, após a Revolução dos Cravos" dedicando-se à "defesa dos direitos dos trabalhadores e dos mais pobres e à luta pela igualdade social".

O secretário-geral do partido, Pedro Nuno Santos, disse ter recebido "com pesar" a notícia da morte da "histórica militante, dirigente e deputada do Partido Comunista Português, que dedicou a sua vida à intervenção cívica e política".

Por sua vez, o líder do Partido Social Democrata (PSD), Luís Montenegro, lembrou que ambos tiveram diferenças de opinião, "mas envolvidas num respeito intelectual e político únicos".

"Partilhei com ela centenas de horas de trabalho legislativo, carregadas de diferenças de opinião mas envolvidas num respeito intelectual e político únicos. A democracia é isso: Convicção e Tolerância", defendeu Montenegro nas redes sociais.

Ainda no PSD, o vice-presidente, Paulo Rangel, descreveu a comunista como "uma mulher forte, sensível, admirável" e afirmou que, "para lá das diferenças ideológicas", recorda o seu "indefetível humanismo e o amor à cultura portuguesa".

O Partido Ecologista "Os Verdes" (PEV) recordou Odete Santos como "uma das mulheres mais destacadas da vida política portuguesa". Em comunicado, o PEV - que integra a Coligação Democrática Unitária com que o PCP concorre às eleições - considera que Odete Santos se destacou sobretudo como deputada à Assembleia da República, "a partir do brilhantismo das suas intervenções parlamentares".

A socialista Ana Gomes expressou a sua admiração por Odete Santos, que descreveu como uma "grande mulher". "Uma deputada que serviu o povo, prestigiou a Assembleia da República e aproximou as pessoas da política. Sempre com agudo sentido de humor. Podíamos discordar muitas vezes, mas respeitava-a, admirava-a e, sobretudo, gostava dela. Obrigada, Odete! Grande Mulher!", escreveu a ex-candidata presidencial na rede social X.

Nascida em 26 de Abril de 1941, na freguesia de Pêga, concelho da Guarda, Maria Odete Santos era advogada, aderiu ao PCP em 1974 e foi deputada à Assembleia da República entre 1980 e 2007, tendo exercido também vários cargos a nível partidário e autárquico, em Setúbal.

Integrou o Comité Central do PCP, a Direção de Organização Regional de Setúbal do PCP e o Movimento Democrático de Mulheres. Foi ainda membro da Associação de Amizade Portugal-Cuba.

O interesse pela atividade política começou antes, quando em 1961 participou nos movimentos associativos estudantis. Foi ainda na faculdade de Direito da Universidade de Lisboa que Odete Santos teve o primeiro contacto com o Partido Comunista Português, ao qual viria a aderir após o 25 de Abril de 1974.

Como dirigente partidária e deputada, destacou-se em áreas dos Direitos, Liberdades e Garantias, na defesa dos direitos dos trabalhadores e dos direitos das mulheres, assuntos que abordou em conferências, debates, entrevistas e artigos publicados, refere a nota, que destaca o "particular significado" da sua intervenção na conquista de novos direitos para as mulheres, nomeadamente o combate ao aborto clandestino e pela despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez".

No Parlamento, dedicou-se às áreas do direito do Trabalho, Assuntos Constitucionais e direitos das mulheres, tendo sido agraciada com a Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.

Foi considerada a deputada mais mediática do PCP e, na altura da sua saída do Parlamento, o ex-secretário-geral comunista Jerónimo de Sousa elogiou-a como "uma mulher apaixonada e apaixonante" que "põe o coração nas palavras".

Odete Santos gozou de uma popularidade que extravasou o âmbito político, com presenças regulares em programas de televisão, desde debates políticos a programas de entretenimento.

Leia Também: Morreu a ex-deputada e dirigente comunista Odete Santos. Tinha 82 anos

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